Qual a importância dessa pergunta?
Essa não é uma pergunta abstrata sobre teologia; é uma questão do mundo
real tanto para o evangelismo quanto para o ministério. Ela está no
cerne de uma das maiores pragas do evangelicalismo – o membro de igreja
que não é convertido. Essa pergunta está na raiz da controvérsia da
“salvação pelo senhorio”, bem como da questão problemática do assim
chamado “crente carnal”, dois assuntos pastorais intensamente práticos.
Além disso, esse problema se relaciona diretamente com os pais cristãos
que anseiam pela conversão de seus filhos. Colocando a pergunta de uma
outra forma, uma pessoa que não vive como um cristão dedicado pode ir
para o céu? Se não, e se dizemos que uma vida cristã é necessária para a
salvação, não estaríamos contradizendo o ensino bíblico da salvação
pela graça, e não pelas obras?
O que é a santificação? De acordo com a
pergunta 38 do Catecismo Batista, “Santificação é a obra da livre graça
de Deus (2 Tessalonicenses 2.13), pela qual nós somos renovados em todo o
nosso ser, segundo a imagem de Deus (Efésios 4.23,24) e somos
capacitados mais e mais a morrermos para o pecado e vivermos para a
retidão (Romanos 6.4, 6)” (Isso é idêntico à pergunta 35 do Breve
Catecismo de Westminster). Regeneração é o novo nascimento, santificação
é o crescimento que necessariamente resulta dele. Justificação é a
declaração de Deus de que um pecador que crê é justo por conta dos
méritos de Cristo imputados a esse pecador. A santificação é o crente
saindo do tribunal onde Deus, de uma vez por todas, o declarou justo, e
imediatamente iniciando o processo pelo qual o Espírito de Deus o
capacita a, cada vez mais, se conformar à justiça de Cristo, tanto
internamente quanto externamente. Jonathan Edwards falou sobre o
inevitável desejo do cristão pela santificação: “A natureza de alguém
que é um recém-nascido espiritualmente é ter sede de crescer em
santidade, assim como é a natureza de um bebê recém-nascido ter sede do
leite de sua mãe.”* O processo é progressivo, mas nunca é completo nesta
vida. A santificação é finalmente completa na glorificação.
Em um sentido, podemos dizer que a
santificação não tem nenhuma relação com a regeneração ou com a
justificação. E, ainda assim, podemos dizer que ela tem toda relação com
o fato de alguém demonstrar que já as experimentou. (Note declarações
semelhantes a “Nós sabemos que já passamos da morte para a vida,
porque…” na carta de 1 João). A santificação sozinha não salva, mas não
há salvação sem ela. Como Paulo disse aos crentes de Tessalônica: “…
Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação
do Espírito e fé na verdade” (2 Tessalonicenses 2.13). A experiência de
salvação começa com a regeneração e a justificação, continua com a
santificação e é completa na glorificação. Todos que são regenerados e
justificados estão sendo santificados. Todos que estão sendo
santificados serão, finalmente, glorificados. Embora possamos distinguir
entre regerenação, justificação, santificação e glorificação, nós não
devemos separá-las. Em outras palavras, a pessoa que verdadeiramente
experimenta uma irá experimentar todas elas (e na ordem que está
listada).
Então, o antigo resumo teológico de que
nós “fomos salvos, estamos sendo salvos e seremos salvos” se aplica
aqui. A santificação não está inclusa na parte do “fomos salvos” da
salvação, mas é um sinônimo da parte do “estamos sendo salvos”. E sem
santificação, não há o “seremos salvos”. Pois como Hebreus 12.14 ensina:
“Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o
Senhor”.
Como eu busco “…a santificação sem a
qual ninguém verá o Senhor?” Diferente da regeneração, há muito esforço
humano cheio do Espírito envolvido na santificação. Por um lado, “Deus é
quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa
vontade” (Filipenses 2.13). Por outro lado, em 1 Timóteo 4.7, recebemos
essa ordem: “Exercita-te, pessoalmente, na piedade”. Deus usa os meios
de graça para nos santificar, sendo os principais deles as disciplinas
espirituais que fazemos pessoalmente e corporativamente. No âmbito
pessoal, elas incluem o receber da Palavra de Deus, a oração, a adoração
particular, o jejum, o silêncio, a solidão etc. Isso é equilibrado
pelas disciplinas que praticamos com a igreja: a adoração pública, o
ouvir da palavra de Deus pregada, a oração corporativa, a comunhão etc.
E em tudo isso, nossa confiança não está em nós mesmos, mas em Deus.
Como Paulo coloca: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa
obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Filipenses
1.6).
Leitura adicional:
Bíblica: Gálatas; 1 João
Teológica: Jonathan Edwards, “Afeições Religiosas” [Religious Affections]
Prática: Jerry Bridges, “A Disciplina da Graça” [The Discipline of Grace]
*Jonathan Edwards, The Works of Jonathan
Edwards, vol. 2, Perry Miller, gen. ed., Religious Affections, ed. John
E. Smith (New Haven, CT: Yale University Press, 1959), página 366.
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