Quantas atividades você tem em sua vida, no dia a dia? Como é sua rotina, quando você acorda de manhã?
Você é do tipo que acorda já agitado?
Levanta às pressas, troca de roupa enquanto toma café – ao mesmo tempo –
já consulta seu e-mail, liga a TV no noticiário, e, menos de meia hora
depois de ter despertado já está a caminho do trabalho, da escola ou de
seu próximo compromisso?
E quando você chega no seu trabalho?
Reuniões? Atualização do dia? Tarefas pendentes? Novas tarefas? Tudo
isso acumulado e o dia vai passando. Nesse ínterim, você está preocupado
com a conta de água, luz, o aluguel, tem de ir ao banco fazer depósito,
tem de ir ao cartório, tem de levar o carro para o conserto, tem de
visitar o parente do cônjuge; isso sem falar na vida virtual: o celular bombando, o WhatsApp a milhão, o Facebook, o Instagram, o site de notícias, aquele vídeo engraçado ou interessante no YouTube.
Chega em casa, tem aquele filme ou
programa de TV que você queria ver, tem os filhos, sua lição de casa, os
problemas na escola; tem a esposa / marido, os assuntos a resolver,
aquela conversa séria que ficou sem terminar, aquela lista de itens da
casa que você precisa comprar e as outras que você tem de consertar –
isso se você for casado; se for solteiro, tem provavelmente os amigos
ligando, uma agenda difícil.
Talvez dê tempo de, entre o horário da
janta e o de dormir, você separe alguns minutos para uma rápida leitura
bíblica…Talvez, nesta altura, as letras já estejam embaralhadas e as
ideias não façam muito sentido. Quando você se dá conta, o dia já
acabou…! você faz a sua oração e vai dormir e o processo começa tudo de
novo no dia seguinte.
Um certo autor disse, em uma ocasião:
“O suprimento de tempo é totalmente
inelástico. Por maior que seja a demanda, o suprimento não aumenta. Além
do mais, o tempo é totalmente perecível e não pode ser armazenado. O
tempo de ontem foi embora para sempre e nunca mais voltará e, assim, o
seu tempo sempre terá suprimento curto”. (e caminha para o fim).
Embora Jesus tenha dito que “não podemos
acrescentar um côvado à nossa vida”, agimos como se nosso tempo fosse
infinito. Parece que lidamos melhor com a finitude do dinheiro, a
finitude da energia – comemos, dormimos, descansamos, nos divertimos –
mas não lidamos bem com a finitude do tempo, talvez porque não lidemos
bem com a finitude da vida.
O que a Escritura tem a nos ensinar sobre nosso tempo e o que fazemos com ele? O livro
Super Ocupado,
de Kevin DeYoung, apresenta diversos princípios que a Bíblia oferece,
com ótimas análises de nossas motivações. Neste artigo, entretanto,
quero focar no exemplo de Jesus registrado em
Marcos 1.35-39. Esse texto nos conta uma história interessante. Leia o texto e volte para cá em seguida.
Jesus era alguém extremamente atarefado! E o evangelho de Marcos nos dá conta disso.
Mesmo antes de chegarmos a esta
passagem, temos o registro de como depois do seu batismo, na região da
Judeia, Jesus voltou à Galileia, foi anunciando o evangelho do Reino
pelo caminho, arregimentou seus principais discípulos, como Pedro,
André, João, Tiago e outros, curou um homem enfermo na Sinagoga, curou a
sogra de Pedro, curou vários enfermos, o dia todo!!, até à noite. Isso
enquanto tinha gente tentando tirar vantagem dele, outros com raiva,
inveja, ódio, curiosidade, querendo tocar nele, querendo uma audiência,
uma conversa, uma visita.
Você consegue imaginar como Jesus seria
atarefado se viesse para o mundo em nossa época: Quantos e-mails ele
receberia por dia? Quantos convites para falar em congressos de
teologia? Quanta gente em torno dele, tentando obter algo?
Mas esse texto aqui nos diz que Jesus, no meio da madrugada, saiu para orar!
Jesus tinha um senso de prioridade muito grande. Primeiro as primeiras coisas.
Ele reconhecia a importância de estar
com seus discípulos, ele sabia da tarefa que tinha diante de si, da
grandeza da tarefa e dificuldade da tarefa, ele sabia que as pessoas
precisavam dele, ele sabia da necessidade de levar luz, ensino, graça e
mesmo suprir a dramática necessidade do povo: saúde e comida. Mas ele
sabia de suas prioridades. Para cumprir sua missão, para suportar as
tentações, as lutas, o cansaço físico e emocional, as pressões, os
ataques, enfim, Jesus precisava ter sua comunhão com o Pai fortalecida.
Ele sabia que a oração cumpriria esse propósito.
Há todo um aspecto de riqueza no fato de
Jesus sair para orar. É possível fazermos orações breves mesmo no
momento em que muitas coisas estão acontecendo. Podemos fazer orações
quando estamos atendendo pessoas, no nosso trabalho, escola – no meio de
uma prova, ou coisa assim: invocamos a ajuda de Deus, lembramos da
Palavra, tentamos ficar tranquilos e agir com fé. Mas há uma riqueza em
fazer como Jesus fez aqui – e em muitas outras oportunidades: se retirar
para um lugar deserto. Ir para um lugar quieto, onde não haja celular
buzinando, WhatsApp, piscando, TV ligada, gente falando; onde ele possa
pensar com clareza; elevar a alma em meditação tranquila, sossegar o
corpo – que precisa desse tipo de afastamento.
Porque a missão dele, o trabalho dele, a
obra dele eram tão importantes, ele priorizou a oração como meio de
realizar sua obra, de se manter em comunhão com Deus, de combater as
tentações, de buscar direção e sabedoria para seus próximos passos.
Jesus foi um homem de oração! De muita oração.
O texto diz ainda que Pedro o procurava
“diligentemente”. Lembre que Marcos é um relato que vem do próprio
Pedro. Ele estava doido atrás de Jesus. Quase que zangado, como o texto
mostra – aparentemente num tom de cobrança: o bicho tá pegando lá e você
aqui?!?
Jesus surpreende com a resposta. Ele diz que vai para outro lugar.
Ele sabia de seus limites.
Auto conhecimento é uma benção.
Ele não podia suprir a necessidade
daquele povo o tempo todo. Ele tinha uma missão, uma obra pela frente.
Ele reconhecia a finitude do tempo. Não desperdiçava seu tempo, suas
ações, seu trabalho, suas palavras. Tudo que ele fazia era pensado,
calculado, com foco e objetivo.
Além disso, ele não se deixou envaidecer
pela procura frenética por sua ajuda e fama que adquiria entre aquelas
pessoas. Ele entendia que tinha de seguir em frente.
Jesus sabia falar NÃO
porque não era vaidoso, porque sabia que não podia fazer tudo ao mesmo
tempo. Ele tinha muitas outras coisas para fazer. Ele gostava de passar
tempo à sós com Deus, tempo à sós com os apóstolos, de ficar em casa, de
ter conversas individuais significativas, de almoçar com as pessoas;
ele precisava dormir, descansar, comer, ir ao banheiro – ele veio como
homem, não como Deus, que é o único onipresente, onipotente.
Às vezes, somos tentados a achar que o
mundo precisa muito da gente. Que se não formos a tal lugar, não
atendermos a tal pessoa, que o mundo vai acabar. Que somos tão
indispensáveis que temos de estar em todas, de fazer tudo, de abraçar o
mundo. A verdade é que se fizermos assim, estaremos sendo arrogantes e
fracassaremos. Tentar fazer tudo é o mesmo que não fazer nada. Ter
muitas coisas para fazer de uma só vez resulta em não fazer nenhuma
delas direito. Temos de deixar de lado a vaidade, reconhecer nossos
limites e agir com prudência.
Finalmente, o texto nos ensina, com a
palavra de Jesus a Pedro, que precisamos respeitar não só nossa própria
agenda, mas a agenda dos outros.
Jesus mostrou a Pedro que este não devia
ter expectativas impróprias com a agenda de Jesus. Pedro chegou a ficar
zangado com a postura de Jesus de sair para orar. A gente vê isso em
outras passagens também, como quando a mulher com hemorragia tentou
tocar em Jesus e os discípulos não queriam deixar; ou quando as crianças
foram atrás dele e não queriam deixar; ou quando aquele cego de Jericó
gritava: Jesus, filho de Davi… o que o povo fazia? Espantaram o homem
(Mc 10.46). Em todos esses casos Jesus graciosamente mostrou para
eles…que não era bem assim.
Às vezes criamos expectativas com
respeito a agenda dos outros. Queremos que os outros façam coisas;
atendam compromissos; estejam em tal e tal lugar; digam tal e tal coisa;
não é bom que seja assim. Precisamos aprender a respeitar a agenda das
outras pessoas.
E Jesus nesta breve passagem nos ensina
tudo isso: Com ele aprendemos a ter prioridades – e que as prioridades
devem ser as coisas mais importantes, como nosso relacionamento com
Deus; aprendemos que temos de reconhecer os próprios limites; aprendemos
a saber dizer não e ter foco; aprendemos ainda a não impormos a ninguém
nossos interesses e expectativas.
Que Deus nos ajude a ser mais e mais semelhantes a Jesus, inclusive no uso de nosso tempo.
Fonte: Voltemos ao Evangelho