NOSSA MISSÃO: “Anunciar o Evangelho do Senhor Jesus à todos, transformando-os em soldados de Cristo, através de Sua Palavra.”

Versículo do Dia

Versículo do Dia Por Gospel+ - Biblia Online

segunda-feira, 29 de maio de 2017

19 DE OUTUBRO DE 1856: O DIA EM QUE 7 PESSOAS MORRERAM ENQUANTO SPURGEON PREGAVA.

O PREGADOR
Convertido aos 15 anos de idade, no dia 6 de Janeiro de 1850, Charles Haddon Spurgeon seria o mais conhecido e influente pregador da Inglaterra no século XIX. Pessoas vinham de várias partes para ouvir a pregação daquele jovem (ele começou a pregar com 16 anos) que falava com clareza, paixão e autoridade.

A MULTIDÃO
O prédio da igreja de New Park Street não comportava a quantidade de pessoas que fluía para ouvir Spurgeon, como ele mesmo havia dito: “A colheita é grande demais para o celeiro”. Enquanto um novo prédio estava sendo construído as reuniões passaram a ser realizadas no Exit Hall, um espaço bem maior do que a Capela de New Park. No entanto, ainda era insuficiente para acolher as multidões, ávidas para ouvir a pregação da Palavra.

A TRAGÉDIA!
Spurgeon decidiu transferir as reuniões para o maior espaço coberto de Londres naquela época. A cidade entrou em ebulição ao saber que Spurgeon pregaria no Surrey Gardens Music Hall, com capacidade para acomodar 10 mil pessoas.

No dia marcado, 19 de outubro de 1856,  os assentos estavam todos ocupados e milhares de pessoas à porta. Foi um dos maiores eventos em Londres naquele século. Um acontecimento que parou a cidade. Spurgeon ficou espantado ao ver a multidão e pensou em cancelar o culto, mas a multidão queria ouvir a pregação, então ele começou  a pregar...

Um pouco depois do início da pregação, um assecla de satanás gritou: Fogo! Fogo! O desespero tomou conta do lugar. Os ingleses, ainda traumatizados com o incêndio que devastou a cidade de Londres em 1666, começaram a descer as galerias em grande aflição e desespero. Spurgeon não se deu conta até que foi informado da confusão e pediu as pessoas que se retirassem com calma. Um pedido em vão. O lugar estava tomado pelo pânico. Como resultado daquela correria, 7 pessoas morreram e 28 ficaram feridas. Quando soube disso, o próprio Spurgeon sofreu ataque e desmaiou. Muitos pensaram que ele tinha morrido.

A SURPRESA!
Não houve incêndio, foi “apenas” um boato! Após uma acurada inspeção foi contatado que  o prédio estava intacto, não havia o menor indício de fogo. 

Spurgeon foi duramente criticado pela imprensa e responsabilizado pela morte daquelas pessoas. Alguns jornais, que já o perseguiam, aproveitaram aquela tragédia para lançar uma série de ataques e ofensas. Foi um tempo de grande aflição para Spurgeon que tinha apenas 22 ANOS DE IDADE!! Sua alma entrou em agonia e estas mortes sempre assombraram o seu coração.

O SOFRIMENTO
Ele descreveu a sua experiência com as seguintes palavras:

"Apenas o próprio Deus conhecia a angústia do meu espírito triste. As lágrimas eram o meu alimento de dia, e sonhos de terror à noite.
Meu pensamentos eram como facas afiadas que cortavam meu coração em pedaços. Eu não podia ser confortado.
A minha amada Bíblia não me dava nenhuma luz. Não conseguia orar.
Senti que a minha fé tinha morrido e que Deus tinha me abandonado...".

Spurgeon estava no vale da sombra da morte. Sua alma desespero existencial e seu coração esmagado pela tirania daquela tribulação indescritível.

O RECOMEÇO!
No entanto, o Deus que levanta os abatidos, manifestou a sua graça restauradora trazendo conforto  e novo ânimo.

“Como um clarão de um relâmpago minha alma voltou para mim”.
"Estava livre! A porta da minha prisão se abriu".
"Eu saltei de alegria em meu coração".

Spurgeon voltou a pregar. Um ano depois ele pregou para 24 mil pessoas, em um culto de oração convocado pela coroa inglesa em favor da nação (o maior público para o qual ele pregou de uma só vez).

O último dos puritanos, foi devidamente chamado de “O Príncipe dos Pregadores”. Seu ministério foi ricamente abençoado até o fim dos seus dias (31 de janeiro de 1892). Ainda hoje Spurgeon inspira muitos pregadores e edifica a igreja de Cristo por meio dos seus livros e sermões.

SETE LIÇOES BÁSICAS SOBRE A TRAGÉDIA DO DIA 19 DE OUTUBRO.

1) Um boato pode matar.
2) A mentira é filha do diabo, assassino desde o princípio.
3) Uma tragédia, sobretudo quando implica em morte, é sempre uma provação para fé.
4) Ser fiel a Deus não garante imunidade ao sofrimento.
5) Diante da dor, a presença de Deus pode tornar-se imperceptível, mas é real e verdadeira.
6) A graça de Deus é suficiente para sustentar o crente no vale da sombra da morte.
7) Uma derrota no meio do caminho não impede a vitória final

domingo, 28 de maio de 2017

Simplesmente, obedeça!

A fé não é cega, pois está edificada sobre Deus. Por isso, a fé não discute, apenas obedece. Abraão foi chamado o pai da fé e ele demonstrou essa verdade em sua vida. A fé em Deus é provada pela obediência. Não somos o que falamos nem o que sentimos. Somos o que fazemos. Destacaremos, aqui, três episódios na vida de Abraão:
​Em primeiro lugar, Abraão sai de sua terra para ir para uma terra que Deus lhe mostraria. Abraão não discutiu com Deus, não avaliou os riscos nem adiou a decisão. Simplesmente obedeceu. Tinha setenta e cinco anos, quando começou uma nova empreitada em sua vida, movido pela fé. Precisava romper laços, deixar para trás sua terra, seu povo, sua cultura, sua religião. Movido, entretanto, pela confiança em Deus, obedece sem tardança, para formar uma nação e ser o pai de uma grande multidão. A fé é certeza e convicção. Não está edificada sobre sentimentos, mas sobre a maior de todas as realidades, o caráter de Deus. Você tem obedecido a Deus? Tem andado pela fé? Tem descansado no cuidado divino? Onde está sua segurança: em sua nação, em sua família, em sua cultura, em seus bens? Ponha seus olhos em Deus e viva pela fé!
​Em segundo lugar, Abraão, sendo o líder da família, dá a Ló a liberdade de escolha. Houve um conflito entre os pastores de Abraão e os pastores de Ló. Não podiam viver em harmonia mais. Abraão poderia ter despedido Ló, mas deu a ele a liberdade de escolher para onde queria ir. Ló escolheu as campinas verdejantes e deixou para Abraão os lugares secos. A confiança de Abraão não estava na geografia de suas terras, mas em Deus. Não confiava na provisão, mas no provedor. Não tinha seus olhos postos nos campos da terra, mas no Senhor do céu. Foi nesse momento que Deus prometeu dar a ele tudo quanto podia avistar no Norte e no Sul, no Leste e no Oeste. Mais tarde, Ló foi capturado e levado cativo pelos reis daquela terra e Abraão não hesitou em sair em sua defesa. Enfrentou riscos para salvar seu sobrinho e sua família. Obteve retumbante vitória. Foi-lhe oferecido despojos, mas Abraão recusou. Ele não queria nenhuma riqueza que não viesse das mãos do próprio Deus. Seus olhos não estavam na recompensa dos homens, mas na dádiva de Deus. Coisas materiais não seduziam o coração deste homem, cujo coração estava em Deus.
​Em terceiro lugar, Abraão atende a voz de Deus e oferece a ele seu filho amado. Abraão abriu mão de sua terra, de seus bens e agora, abre mão de seu filho Isaque. Deus ordena Abraão a ir ao monte Moriá, para ali oferecer Isaque em holocausto. Abraão não argumenta com Deus nem adia a viagem de três dias rumo ao monte do sacrifício. Aquele supremo sacrifício era para o pai da fé um ato de adoração. Havia no seu coração a plena convicção de que Deus providenciaria um cordeiro para o sacrifício. Acreditava até mesmo que Deus poderia ressuscitar seu filho. Sua fé não é vacilante. Sua confiança é inabalável. Seus olhos não estão nas circunstâncias nem depende de seus sentimentos. Abraão tem seus olhos em Deus e vive pela fé. Renuncia tudo por Deus. Entrega tudo a Deus. Confia plenamente em Deus. Então, Deus poupa seu filho, providencia um substituto para o holocausto e amplia ainda mais suas promessas e bênçãos a esse veterano da fé. Oh, que Deus nos faça conhece-lo na intimidade! Que Deus nos capacite a viver nessa absoluta dependência! Que tenhamos total desapego das coisas para dependermos plenamente de Deus! Que tenhamos a coragem de entregar tudo a Deus, inclusive nossa vida, nossos bens, nossa família, nossos filhos, nosso futuro. Deus jamais desampara aqueles que nele esperam. Ele jamais fica em dívida com aqueles que nele confiam. Em Deus podemos confiar!

Rev. Hernandes Dias Lopes

sábado, 27 de maio de 2017

Como ouvir (e aproveitar) um sermão na igreja?

Como resgatar a escuta de sermões – bons ou nem tanto – para que eles produzam vida e não culpa?

Se existe uma vida leve e libertadora para seguir a Jesus, como vamos interagir com os sermões para que possamos caminhar nesta direção?
Já estive nos dois lados de um sermão medíocre, no do pregador e no do ouvinte! Vamos ver se conseguimos deixar de lado as preocupações e experiências normais com os sermões — ótimos, bons ou razoáveis — e, em vez disso, nos concentrarmos em como podemos resgatá-los como voz de Deus a serviço da vida para a qual Jesus nos chama.
Para resgatarmos a prática de ouvir sermões de modo que eles sejam traduzidos em uma vida livre e libertadora, podemos começar com a epístola de Tiago. Tiago afirma que quando deixamos a Palavra “entrar por um ouvido e sair pelo outro” desprezamos algo muito importante e cometemos um grave erro. Ele insta seus ouvintes a viver “na prática”. Afirma que a pessoa que assim o faz “vai longe e será abençoada por Deus” (Tg 1.22-25).
Por experiência própria, muitos de nós achamos que Tiago não está certo. Nossa experiência nos diz que a prática da fé cristã é penosa. Vejamos duas versões de Efésios 5.3-4 como exemplo:
Mas a impudicícia e toda sorte de impurezas ou cobiça nem sequer se nomeiem entre vós, como convém a santos; nem conversação torpe, nem palavras vãs ou chocarrices, coisas essas inconvenientes; antes, pelo contrário, ações de graças. (RA)
Não permitam que o amor se transforme em paixão carnal! Vocês podem cair na ladeira escorregadia da promiscuidade, da perversão ou da cobiça desenfreada. Ainda que alguns gostem de uma fofoca, os seguidores de Jesus devem usar a língua para o melhor. Nada de falar besteira e baixaria. Isso não condiz com o estilo de vida de vocês. Ação de graças sempre deve ser a marca da nossa linguagem.
Fico imaginando se quando ouvimos um texto como esse não pensamos: “Bem, eu não entro nas bancas de revistas pornográficas, não falo mal das pessoas nem conto piadas racistas”. Se reagimos dessa maneira é porque não entendemos o texto. Perdemos a oportunidade de participar do jugo suave de Jesus. Paulo está tratando daquilo que é normal na nova sociedade de Deus.5 Ele está descrevendo aquilo que acontece naturalmente àqueles que compartilham do jugo de Jesus. Não são regras que você tem de obedecer para se livrar do fogo do inferno. Pensando na metáfora de Colossenses 3.12, essas são as novas roupas que vestimos quando começamos a seguir a Jesus.
Como ilustração, vamos falar de maledicência. Há algum tempo, pediram-me para participar de um debate sobre se era razoável os cristãos usarem certos tipos de palavrões. Achei tudo muito estranho. Fiquei pensando por que alguém iria querer falar palavrão. Alguns diziam que às vezes um palavrão era a palavra perfeita para determinado contexto. Outros achavam que seria hipocrisia se, de vez em quando, um cristão não mandasse alguém para aquele lugar ou usasse outro palavrão. Essa ideia é um grave engano para os que estão querendo seguir o seu caminho sob o jugo de Jesus.
Embora as palavras sejam, sem dúvida alguma, importantes e poderosas, não acredito que Paulo esteja pensando apenas nelas. Ele está pensando em algo mais, como a natureza das coisas para aqueles que estão sob o jugo de Jesus. O sentido grego subjacente a esta frase é que não deve haver “mentes sujas entre nós expressando-se em palavras obscenas”.6 Quando prestamos atenção suficiente à realidade interior — a mente de onde procedem as palavras —, saímos de uma preocupação legalista com o que podemos usar para a natureza interior essencial que Paulo tem em mente. Minha contribuição básica para o debate sobre o uso de palavrões é esta: use como referência a regra de ouro. Se você não gosta de ser xingado, então, não xingue os outros. A regra de ouro é chave para prosseguirmos e agirmos em sintonia e em compasso com Jesus.

 USANDO MAL O SERMÃO DOS DOIS LADOS DO PÚLPITO

Infelizmente, os pregadores às vezes sermonizam, isto é, utilizam um estilo de comunicação dogmático, condescendente, manipulador e provocador de culpa. Ainda que o pregador não tenha essa intenção, os ouvintes estão condicionados a ouvirem desse modo. Como milhões de outros, gosto demais da história de A Cabana. O diálogo entre Mack e as pessoas da Trindade mostra como as más compreensões sobre a espiritualidade cristã facilmente interferem na vida leve e suave.
Mack diz a Jesus: Você não quer que a gente estabeleça prioridades que você conhece: Deus em primeiro lugar, depois tudo o que vier em seguida?
Sarayu (o Espírito Santo) responde: O problema de viver por prioridades […] é que enxerga-se tudo em termos de uma hierarquia, uma pirâmide […] e quando você coloca Deus no topo, o que isso realmente significa e como se mede o que é suficiente? Quanto tempo você precisa dar para mim antes de voltar para os seus afazeres no restante do dia, a parte que você está mais interessado?
Papa (Deus Pai) interrompe: Percebe, Mackenzie, eu não quero apenas um pedaço de você e de sua vida. Mesmo que você fosse capaz, o que você não é, de me dar o maior pedaço, não é isso que quero. Quero você inteiro e tudo de todas as suas partes.
Jesus, então, fala mais uma vez: Mack, não quero ser o primeiro em uma lista de valores; quero ser o centro de tudo. Se eu viver em você, então, poderemos juntos passar por tudo que acontece com você.9
Para mim, essa passagem é um retrato clássico tanto do que pode dar errado quanto do que pode dar certo quando resolvemos resgatar a prática de ouvir sermões. De algum modo, precisamos reprogramar nossa escuta de sermões para significar a adoção de um novo modo de pensar a interação com Jesus. Nunca podemos deixar nossa vida com Jesus se tornar um conjunto de princípios despersonalizados. Estar sob o jugo de Jesus é um novo modo de viver a nova história de Deus. Quando ouvimos sermões com isso em mente, eles se tornam parte vital de nossa formação espiritual.
Outra dificuldade com a prática espiritual de ouvir sermões vem de achar que nós sabemos mais do que realmente sabemos. Essa percepção vem de Eugene Peterson. Ele descreve o que isso significa para aqueles que há décadas ensinam a Bíblia, que estão envolvidos em aconselhamento espiritual ou tiveram outra função bastante visível na igreja. Isso passou por minha mente inúmeras vezes:
Há uma distância enorme entre o que eu sou e o que as pessoas pensam de mim. Quanto melhor é a minha atuação [como pastor] e quanto mais cresce a minha reputação, mais me sinto uma farsa. Conheço muito mais do que pratico. Quanto mais vivo, mais adquiro conhecimento e maior se torna a brecha entre o que sei e o que pratico. Pioro a cada dia.10
Talvez você também se identifique com isso. Talvez nem precise ser um profissional eclesiástico para cair nessa armadilha. Como sair dessa? Como podemos resgatar a escuta de sermões para que eles produzam vida e não culpa? Aqui está uma dica: “A obra do Espírito na criação não se limita a levantar perguntas como: ‘Quando isso ocorreu? Como foi que aconteceu?’. Agora perguntamos: ‘Como posso fazer parte disso? Qual é o meu papel nessa história?’. E oramos: ‘Cria em mim…’” (Sl 51.10).11
Sugiro que nós escutemos sermões dessa maneira — não importa o que o pregador esteja dizendo. Por exemplo, suponha que o pregador diga: “Paulo escreveu essa carta no ano XYZ, a tais pessoas, para comunicá-las sobre isso ou aquilo”. Ao ouvir isso, dizemos a nós mesmos: “Uau! Como posso fazer parte disso? Qual é o meu papel nessa história? Como a incorporo em minha vida, meu tempo, meu povo e nos desafios do meu mundo? Agora sim estamos resgatando a prática de ouvir sermões como modo de vida.
• Trecho retirado de Dê Outra Chance à Igreja, de Todd Hunter (Editora Ultimato).

sexta-feira, 26 de maio de 2017

O que aprendi com a divisão dos meus pais

Num sábado desses eu estava sentado do lado de fora da quadra, esperando algum dos times fazer o segundo gol pra eu poder voltar a campo e mostrar todo o meu futebol arte, quando surgiu o assunto “relacionamentos problemáticos” na conversa superficial de banco de reservas com um daqueles amigos de futebol que você só conhece pelo apelido, pela perna boa e não adiciona no Facebook. Papo vai, papo vem e ele rasgou a superficialidade da conversa, me lançando no poço das respostas não automáticas com a seguinte pergunta:
— Cara, te anima essa ideia de casamento?
Caro amigo superficial de futebol, você me fez pensar. Se eu perdi gols depois disso, a culpa é toda sua (e daquele goleiro novo que pegou tudo naquele dia).
A primeira coisa que me vem à cabeça quando penso em casamento é aquele clichê de que “a matemática do amor é linda, pois é o único caso onde 1 + 1 dá 1”. Mas logo em seguida eu penso no casamento dos meus pais e tudo que me vem à cabeça é que a soma é irrelevante. O que mais acontece é divisão.
Eu poderia gastar linhas aqui falando como o divórcio hoje em dia é comum, o quanto acho que falta neurônio quando pessoas se casam por impulsividade ou orgulho, ou o quanto falta empenho nos casais pra superar as dificuldades, mas não é desse tipo de divisão que eu estou falando. Falo aqui da divisão de bens. Falo da divisão de males. Falo da divisão de alegria, de tristeza, de dinheiro, de dívidas. A divisão que aprendi é a divisão de sonhos e frustrações, divisão de cama e de pernilongos.
Há uns 30 e tantos anos atrás existia um muro que dividia a casa da minha mãe da igreja do meu pai. Por cima deste muro eles se conheceram, pouco tempo depois se amaram e anos depois se casaram. Dividiram o mesmo teto no sobradinho dos sonhos deles, e depois dividiram o rodo pra tirar a água das enchentes que transformaram o bairro num pesadelo.
Dividiram a responsabilidade de pegar os quatro filhos pequenos e ir de mudança pro interior, e dividiram o amor entre eles de maneira que nenhum se considera mais ou menos privilegiado (mais alimentado teve um, mas isso é outra história). Não bastassem os quatro filhos, dividiram a casa com um monte de sobrinhos e outros filhos por consideração. E ainda por cima dividiam uma caixinha de Bis pra essa galera toda.
Dividiram as contas e os esforços vendendo calcinhas e sutiãs quando a crise apertou e dividiram o dinheiro que às vezes sobrava com quem estava precisando. Dividiram o tempo que podiam ficar juntos para se dedicarem a completos desconhecidos. Dividiram a dor de perder pais e irmãos e dividiram a alegria de casar filhos e ganhar netos.
A coisa mais normal em toda a minha vida foi ver meus pais separados. Ele viajando a trabalho, ela trabalhando no escritório. Ele cuidando de um coral de uma igreja, ela cuidando de trabalhos em outra igreja. Ele ensinando flauta para crianças carentes, ela alimentando outras crianças carentes na mesa de casa.
Independente de toda essa divisão, é a mesma cama que eles dividiam toda noite (ou o mesmo sinal ruim da Tim quando ele tinha que dormir fora da cidade).
Há pouco tempo atrás o casamento deles chegou naquele ponto em que a morte pede licença para dividi-los por um tempinho, mas a aliança que não sai do dedo da dela me mostra que eles ainda terão uma eternidade inteira para dividirem alegrias infinitas junto com Deus.
Portanto, caro amigo superficial de banco de reservas de sábado: Me amedronta a ideia de casamento por não saber se eu conseguirei ser tão bom pra maluca que aceitar se casar comigo como meus pais foram bons um para o outro. Mas sim, me anima e muito a ideia de casamento, justamente porque tenho um bom exemplo a seguir.
No fim das contas, tanto faz se 1+1 dá 1 ou 42. Enquanto continuar dividindo por 2, o amor nunca chega a zero.
Thales Rios tem 28 anos, é designer gráfico, professor de EBD e tenta ser engraçado escrevendo para o blog Thales de Muleta.

quinta-feira, 25 de maio de 2017

“Quebrando o Silêncio” alerta contra perigos da internet para crianças

Crianças e adolescentes em contato com o mundo virtual por meio de telefones, computadores ou tablets é uma realidade inevitável. Os riscos de crimes nesse ambiente também aumentam. Levantamento feito pela empresa de segurança Kaspersky Lab, a partir da ferramenta “Controle dos Pais”, mostrou que mais de 52 milhões de tentativas de visitas a redes sociais e mais de 25 milhões de tentativas de acesso a sites pornográficos foram registrados nos cinco primeiros meses desse ano. 

O projeto “Quebrando o Silêncio” aposta na orientação e educação como instrumentos eficazes para diminuir esse perigo. Nesse ano, a ênfase da campanha voltada às crianças está no tema “Perigos em rede”.

A coordenadora sul-americana do projeto, Wiliane Marroni, explica que foi produzida uma revista com linguagem adaptada ao público infantil que enfoca as ameaças principais no ambiente virtual. “A campanha desse ano chama a atenção de pais e mães para a necessidade de auxiliar seu filho a conviver de maneira saudável na web. A revistinha, impressa e em formato eletrônico, também ensina os pequenos a tomarem alguns cuidados”, ressalta a coordenadora.

Do virtual ao real
Na prática, ninguém se insurge contra o uso de tecnologias. A preocupação de educadores e demais profissionais da área é com a educação para o comportamento de crianças e adolescentes na Internet. É o que pensa, por exemplo, a psicóloga Karyne Correia, mestre em psicologia e que trabalha com conteúdo para Internet há cinco anos. "Aceitamos muito bem os sites de relacionamento, e já era de se esperar, já que somos seres (humanos) sociais. Contudo ainda sentimos o desejo do contato físico, do toque, do aproximar-se. E na ânsia de transpor o relacionamento unicamente virtual, muitos (de crianças a adultos) têm arriscado suas vidas. A necessidade de ser virtualmente popular favorece comportamentos de exposição que colocam em risco a segurança pessoal e familiar. O relacionamento virtual, envolto pela sedutora roupagem do novo e do desconhecido, tem sido uma porta de entrada para a violência. Não podemos, nem precisamos, fugir da tecnologia, mas podemos ensinar as pessoas a usá-la de forma mais segura”, analisa a profissional.

Sobre o projeto
“Quebrando o Silêncio” é um projeto educativo e de prevenção contra o abuso e a violência doméstica promovido anualmente pela Igreja Adventista do Sétimo Dia em oito países da América do Sul, (Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai) desde o ano de 2002.

A campanha se desenvolve durante todo o ano, mas uma das suas principais ações ocorre sempre no quarto sábado do mês de agosto. Este é o “Dia de ênfase contra o abuso e a violência”, quando ocorrem passeatas, fóruns, escola de pais, eventos de educação contra a violência e manifestações na América do Sul.

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Texto: Felipe Lemos, da Assessoria de Comunicação da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

05 dicas aos que se converteram e possuem um cônjuge não cristão


Deus pela sua graça e bondade, tem mediante o Espírito Santo regenerado um número incontável de pessoas levando-os a experiência da salvação. Contudo, não são poucos aqueles que em virtude da vida pregressa que tiveram longe do Senhor, não sabem como lidar com o cônjuge que ainda não foi regenerado pelo Senhor.
Diante do exposto, elenco abaixo cinco dicas que lhe ajudarão a testemunhar da sua salvação para seu marido ou esposa, senão vejamos:
1- Ore por seu cônjuge e peça a Deus momentos oportunos para testemunhar do evangelho no momento certo.
2- Compartilhe de sua fé. Conte ao seu cônjuge o que lhe aconteceu. Da Graça de Cristo que lhe envolveu, do perdão dos  pecados, e da libertação da culpa.
3- Se necessário, peça perdão pelos erros, pecados cometidos, bem como falhas na forma de lidar com o seu cônjuge.
4- Mostre ao seu cônjuge com atos e atitudes a sua regeneração e conversão. Se gritava não grite mais; se brigava por qualquer motivo, não o faça mais; se era um péssimo esposo, mostre que mudou; se era murmurador, comporte-se de forma diferente.
5-  Aos maridos digo: ame sua esposa como cristo amou a igreja, dedicando-se e servindo a ela. As esposas, sejam submissas aos seus maridos no temor do Senhor.
Pense nisso!
REnato Vargens

terça-feira, 23 de maio de 2017

Os cristãos e o politicamente correto

O cristão não deve ser politicamente correto (PC). E o cristão não deve ser anti-politicamente correto (anti-PC). O cristão deve ser anti-anti-politicamente correto (anti-anti-PC).

A liberdade de expressão é um dos direitos mais fundamentais do ser humano, sem o qual os outros direitos se tornam impossíveis ou difíceis de se exercer. Sem a liberdade de expressão, não há como navegar pacificamente a extrema diversidade de experiências humanas; não há como desenvolver a boa governança; e não há como reconhecer e responder à verdade em todos os campos, inclusive o religioso. Este último ponto era reconhecido pelos grandes autores cristãos da Antiguidade (antes da guinada para a repressão que começou no final do século 4º). Por exemplo, o grande teólogo Gregório Nazianzeno disse: “Não considero boa prática coagir as pessoas em vez de persuadi-las. Tudo que é feito contra a própria vontade é como um rio represado por todos os lados”.

A liberdade de expressão é constantemente ameaçada pelo poder político e pelas tensões sociais. Estas têm aumentado sensivelmente num mundo que se globaliza aceleradamente. Sobretudo com a migração e com a internet, o mundo inteiro se torna o nosso vizinho, ou, em termos bíblicos, o nosso próximo. As redes sociais têm facilitado a divulgação de casos (verídicos ou não) de constrangimentos sociais sobre a livre expressão das ideias e dos sentimentos. Ao mesmo tempo, grupos sociais há muito tempo reprimidos ou negligenciados encontram maior espaço para se afirmarem. Para as tensões não transbordarem desastrosamente, incentiva-se o uso de uma linguagem mais ponderada e respeitosa, mais sensível ao dano que pode causar à autoimagem e aos direitos fundamentais dos outros, buscando evitar os retratos caricatos e a ofensa desnecessária. Afinal, o direito de ofender não significa o dever de ofender. Nem tudo que é legal, é moral.

É aqui que surgem as controvérsias sobre o politicamente correto. Não vamos entrar no debate se o politicamente correto, o PC, de fato existe. Se muitas pessoas acham que existe, essa percepção é importante. Quanto à oposição ao politicamente correto, o anti-PC, não há dúvida de que existe. É um fenômeno crescente, com consequências políticas cada vez mais evidentes.

De um lado, temos de reconhecer que ninguém se autointitula “politicamente correto”. Somente se acusa o outro de sê-lo. Por isso, alguns autores sugerem que o PC não existe; existe somente o anti-PC. De fato, o termo “politicamente correto” se popularizou (em inglês primeiro) por volta de 1990 não na boca dos seus supostos adeptos, mas, sim, na boca dos seus críticos. Ou seja, para alguns autores, o fenômeno PC praticamente nasceu com a campanha anti-PC. A pré-história (antes de 1990) do PC seria apenas como um discurso meio jocoso contra o dogmatismo excessivo ou contra a autojustificação farisaica.
Por outro lado, o anti-PC não é construído do nada. Pode ser que o PC seja um “homem de palha”, um “espantalho”, um recurso argumentativo que cria um opositor caricato e absurdo para facilitar a vitória no debate. Mas espantalhos são criados em cima de alguma tendência real, embora caricaturando-a, exagerando-a. O anti-PC não deixa de apontar para uma versão moderna do farisaísmo.

Mesmo assim, o discurso anti-PC tipicamente reúne algumas características. Primeiro, o exagero e a generalização: parte de anedotas para construir um fenômeno generalizado. Depois, a acusação. O discurso anti-PC acusa o outro de agir com má-fé, de ter motivos inconfessáveis, de esconder a verdade para avançar uma agenda. Acusar alguém de estar sendo “politicamente correto” é dizer não somente que está errado, mas também que é mal-intencionado; ou, então, que é inocente útil nas mãos daqueles que querem tomar conta de instituições-chave como a política, a academia e a mídia.

Outra característica é a autovitimização. Quem maneja o discurso anti-PC frequentemente se retrata como oprimido, ora como vítima indefesa de forças ocultas, ora como herói da resistência a essas mesmas forças.

Finalmente, o discurso anti-PC é a antipolítica, pois busca silenciar o debate sério das ideias, preferindo a desqualificação do adversário.

Donald Trump manejou com maestria essas características do discurso anti-PC. “Eles [Obama e Hillary Clinton] colocaram o politicamente correto acima do bom senso, acima da segurança da população, acima de tudo. Mas eu me recuso a ser politicamente correto”, disse Trump após a chacina numa boate na Flórida. Repetidamente, Trump culpou o “politicamente correto” por uma série de problemas sociais e usou o discurso anti-PC para justificar seus comentários chocantes sobre mulheres, imigrantes, latinos, muçulmanos... Apresentava-se ao mesmo tempo como perseguido e como herói. A sua grosseria e insensibilidade seriam, na realidade, a coragem heroica de um perseguido, e não a baixaria de um demagogo.

Se o PC, na medida que existe, é uma manifestação contemporânea do farisaísmo contra o qual se insurgiu Jesus, a realidade é que hoje em dia há muito mais ativismo anti-PC. Quando se trata de cristãos, o sentimento anti-PC muitas vezes reflete a tensão permanente entre pecar com a língua e falar a verdade em amor.

Mas, infelizmente, o discurso anti-PC, mesmo quando fala a verdade, não transmite exatamente o amor. E muitas vezes apenas externaliza sentimentos vis, os quais, em vez de serem expressos em público, deveriam ser confessados em oração, pedindo a cura de Deus.

No fundo, muitas normas que poderiam ser chamadas (xingadas) de politicamente corretas existem por causa de uma realidade humana que os cristãos, teoricamente, reconhecem diariamente: a existência e ubiquidade do pecado; neste caso, o pecado de deixar aflorar certas opiniões e atitudes que o cristão deveria ter vergonha de sentir. Por outro lado, quem crê que a total falta de controle sobre a expressão dos sentimentos equivale à “honestidade” e deve ser encorajada, doa a quem doer, não acredita (supõe-se) na realidade do pecado.

Nada mais distante da visão bíblica do uso responsável da língua, sem falar da visão bíblica da igualdade humana e da universalidade do conceito de “próximo” (todo o mundo) e da “regra de ouro” (“faça aos outros o que você quer que façam a você” [Mt 7.12]). E sem falar do comportamento de Jesus. Como em tantas outras dimensões, Jesus inverteu as expectativas dos religiosos de sua época, mas não pelo destempero verbal contra os indefesos e vulneráveis e marginalizados, como os “politicamente incorretos” de hoje. O destempero verbal de Jesus é proporcional ao poder real (político, ou religioso, ou social) exercido pelo “alvo” da sua crítica: o governante é “raposa”, os líderes religiosos são “sepulcros caiados”. Para Jesus, quanto mais vulnerável o grupo ou pessoa, maior a nossa responsabilidade de evitar ofendê-lo; não na sua sensibilidade exagerada, mas na sua condição de imagem de Deus (“ao menor destes...” [Mt 25.40]).

Os cristãos devem precaver-se da atração pelo destempero e pelas opiniões agressivas de algumas correntes políticas ao redor do mundo hoje. O espírito de Jesus (tanto no seu uso da linguagem como na sua visão do “reino invertido”) pouco ou nada tem a ver com essa atração. Não sejamos como as pessoas que se fascinam com o político (ou melhor, o político que se apresenta como o antipolítico) que fala grosso. Lembremos que, segundo o apóstolo, quem aprova um ato vil é até pior do que quem o pratica (Rm 1.32).

Nosso chamado como cristãos não é ser PC (que, na melhor das hipóteses, representa apenas o atual estágio do preconceito), nem anti-PC, mas buscar entender cada vez mais o alcance estupendo da revelação de Deus em Cristo e as suas implicações para a nossa visão do ser humano. Uma pequena ilustração disso: há alguns anos, um de nós fez uma apresentação sobre pentecostalismo e migração internacional num simpósio acadêmico. Assim que terminou, a primeira reação da plateia foi de um estudioso holandês, um dos mais respeitados no campo da sociologia da religião, que disse com desdém: “Onde quer que haja pentecostais, há problemas”. Não houve reação do grupo. Mas podemos imaginar qual teria sido a reação se ele tivesse falado não de “pentecostais”, mas de “judeus” ou de “muçulmanos”. Teria havido, sem dúvida, uma reclamação ou, no mínimo, um suspiro audível de desaprovação. Mas ainda é aceitável dizer certas coisas sobre pentecostais que não são mais aceitáveis dizer (graças a Deus) a respeito de muçulmanos ou judeus. E isso acontece apesar do fato de que a grande maioria dos pentecostais ao redor do mundo são relativamente pobres, não brancos e mulheres, categorias que o “politicamente correto” deveria proteger.

Esse incidente ilustra a ideia do “estágio atual do preconceito”. E a reação cristã, nos parece, não é de querer que seja, mais uma vez, legítimo falar desrespeitosamente de pobres, não brancos, mulheres, judeus e muçulmanos, mas que o mesmo respeito seja demonstrado aos pentecostais (seja qual for seu gênero, cor ou condição econômica), como também a todos os seres humanos, portadores sem exceção da imagem divina.

Nota:
Texto publicado originalmente na seção "Ética" da revista Ultimato, edição 365.

• Paul Freston
, inglês naturalizado brasileiro, é professor colaborador do programa de pós-graduação em sociologia na Universidade Federal de São Carlos e professor catedrático de religião e política em contexto global na Balsillie School of International Affairs e na Wilfrid Laurier University, em Waterloo, Ontário, Canadá.

• Raphael Freston é mestrando em sociologia na Universidade de São Paulo.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Flertando com o adversário: os evangélicos e a teologia liberal

Um traço intrigante de alguns movimentos religiosos é o fato de experimentarem transformações tão radicais ao longo de sua história a ponto de se distanciarem por completo de suas convicções iniciais. Um bom exemplo disso foi o que ocorreu com o puritanismo norte-americano. Originalmente comprometido com uma fé profundamente bíblica e uma espiritualidade fervorosa, algumas gerações mais tarde ele deu origem ao movimento unitário, fruto do racionalismo iluminista. Diversos observadores entendem que esse mesmo fenômeno está ocorrendo nos dias atuais com o movimento evangélico ou evangelicalismo, não só nos Estados Unidos, mas também no Brasil. Consciente ou inconscientemente, segmentos evangélicos anteriormente conservadores, apegados à fé cristã histórica, estão aos poucos abraçando pressupostos e atitudes característicos do liberalismo teológico.

Antecedentes históricos
Até o século 18, o protestantismo atribuiu grande importância à inspiração divina, autoridade e suficiência das Escrituras, bem como a outras convicções decorrentes desses fundamentos, preservando as ênfases dos reformadores do século 16. Os princípios de “sola Scriptura” (somente a Escritura), “tota Scriptura” (toda a Escritura) e o direito de livre exame revitalizaram a igreja e transformaram sociedades inteiras. Todavia, com o advento do Iluminismo, surgiu a tendência de embasar a religiosidade e a fé em outras autoridades que não a Bíblia e os credos cristãos históricos. Inicialmente, foi entronizada a razão, concluindo-se que só podia ser aceito como verdade religiosa o que pudesse ser demonstrado pelo intelecto humano. É o que se denominou religião natural ou racional, cuja expressão mais conhecida foi o deísmo inglês.

Posteriormente, o filósofo alemão Immanuel Kant mostrou os limites da razão, relegando a religião ao âmbito exclusivo da moralidade (“razão prática”). Embora as realidades transcendentes fossem consideradas inacessíveis ao conhecimento humano, a crença em Deus foi mantida como um suporte para o viver ético. No século 19, Friedrich Scheiermacher, considerado o “pai da teologia liberal”, deu um passo adiante ao definir a essência da religião como o senso de dependência absoluta da realidade última. Agora, o critério da verdade passou a ser o sentimento, a experiência subjetiva. Ele também relativizou a importância do cristianismo, já que esse sentimento de dependência podia existir em qualquer religião. Outro grande forjador da teologia liberal, Albrecht Ritschl, apesar de ter atribuído maior valor à Escritura e à fé cristã, manteve a ênfase ética em detrimento das preocupações doutrinárias.

A segunda metade do século 19 assistiu ao pleno florescimento do liberalismo teológico, caracterizado pelo esforço de harmonizar o cristianismo com o pensamento, a arte e a ciência contemporânea. O campo em que isso ficou mais evidente foi o estudo da Escritura. A Bíblia passou a ser encarada desde uma perspectiva naturalista, sendo negadas a sua inspiração e autoridade divina. Ela deixou de ser vista como uma fonte de verdades eternas, sendo apenas o registro culturalmente condicionado das experiências religiosas do povo de Israel e dos primeiros cristãos. Jesus foi considerado simplesmente um ser humano com profunda percepção das realidades espirituais, um grande mestre moral e religioso. Esse personagem histórico nada tinha a ver com o ente divino-humano, operador de milagres e ressurreto dentre os mortos retratado nos Evangelhos, que teria sido imaginado pela igreja primitiva (“o Cristo da fé”).

Surge o evangelicalismo
No início do século 20, protestantes conservadores nos Estados Unidos ficaram alarmados com o avanço do liberalismo ou modernismo teológico. Como já havia ocorrido na Europa, a teologia liberal estava rapidamente ocupando espaços nas igrejas e nos seminários norte-americanos. Ocorreu nesse contexto a célebre controvérsia “modernista-fundamentalista”, na qual os conservadores afirmaram enfaticamente a necessidade de preservar as convicções cristãs históricas sobre as Escrituras e a pessoa de Cristo, que eles criam estar sendo solapadas pelas novas ênfases teológicas. John Gresham Machen, professor de Novo Testamento no Seminário de Princeton e o representante mais culto do movimento conservador, escreveu o livro “Cristianismo e Liberalismo” (1923), argumentando que os termos desse título se referiam a duas religiões inteiramente distintas.

Por defenderem doutrinas consideradas fundamentais para a fé cristã, os conservadores ficaram conhecidos como fundamentalistas. Infelizmente, alguns deles também começaram a insistir numa questão não essencial, o dispensacionalismo, e a manifestar atitudes intolerantes e cismáticas em relação aos que não concordavam com eles. O movimento então se dividiu, ficando de um lado os radicais, sob a liderança de Carl McIntire, e do outro, os evangélicos, mais moderados, liderados por homens como Harold Ockenga, Carl F. Henry e Billy Graham. Houve também uma versão européia do movimento, tendo à frente John Stott, J. I. Packer, Martyn Lloyd-Jones e Francis Schaeffer, entre outros.

O liberalismo clássico, caracterizado por seu imenso otimismo quanto à bondade inata do ser humano e ao progresso inexorável da humanidade, sofreu fortes abalos com a Primeira Guerra Mundial e a neo-ortodoxia de Karl Barth, mas conseguiu sobreviver. Embora muitos liberais fossem homens cultos e íntegros, sua teologia contribuiu para que boa parte das igrejas da Europa e da América do Norte perdesse sua identidade doutrinária, vitalidade espiritual e zelo evangelístico. Durante algumas décadas, os evangélicos ou evangelicais procuraram preservar esses valores por meio de suas igrejas, instituições e publicações. Todavia, a partir dos anos 80, determinados segmentos começaram a tomar rumos preocupantes.

O dilema atual
Autores contemporâneos como David Wells (“Coragem de Ser Protestante”) e Michael Horton (“Cristianismo sem Cristo”) têm soado um brado de alerta quanto a algumas transformações recentes do evangelicalismo norte-americano. Dois movimentos em especial geram apreensões: as igrejas norteadas pelo marketing religioso e as chamadas igrejas emergentes. Elas têm em comum uma forte ênfase antropocêntrica que torna os desejos, as necessidades e as experiências humanas o critério dominante da vida espiritual, e, em consequência disso, uma preocupação cada vez menor com doutrinas, com convicções claras e firmes.

Como sempre acontece, muitas igrejas evangélicas brasileiras têm sentido o impacto dessas influências procedentes do hemisfério norte. O evangelho da prosperidade e o pragmatismo religioso têm levado a uma preocupação com o sucesso, com números, em detrimento da integridade bíblica e teológica. Em muitos púlpitos já não se ouvem as doutrinas da graça, os grandes temas da Reforma do Século 16, e sim mensagens condescendentes de autoajuda psicológica. Afinal, é muito mais interessante ouvir um sermão sobre como ser feliz e bem-sucedido do que sobre o pecado, a justiça de Deus ou a santificação.

A falta de interesse por questões doutrinárias tem levado um bom número de igrejas e líderes a gradativamente abrirem espaços para a penetração de influências liberais. Há vários anos, denominações históricas outrora conservadoras vêm permitindo que instituições vitais, como os seus seminários, sejam controladas por corpos docentes de orientação progressista. Recentemente, até mesmo grupos pentecostais, na ânsia de encontrarem professores pós-graduados para seus cursos de teologia reconhecidos pelo governo e para programas de validação de diplomas, têm feito contratações levando em conta apenas a titulação acadêmica e não as preferências teológicas dos docentes. Em consequência, grande número de pastores e leigos têm ficado expostos a conceitos doutrinários muito diferentes daqueles adotados oficialmente por suas igrejas.

Conclusão
A mentalidade pós-moderna se caracteriza pelo pluralismo, o relativismo e o abandono de valores absolutos. No desejo de ser relevante, atual e sintonizada com o mundo, a igreja corre o risco de fazer concessões excessivas à sociedade e à cultura, comprometendo a integridade do evangelho da graça. Nesse contexto, a teologia é um dos recursos mais essenciais para a vitalidade do povo de Deus. Se ela for desprezada, a vida devocional, o culto comunitário, o senso de missão e o testemunho da fé perdem sua solidez e coerência. Por sua vez, sem olhar atentamente para a Escritura, a história da igreja e as contribuições do passado, a reflexão teológica se torna refém das opiniões subjetivas, dos modismos flutuantes e dos ditames culturais de cada geração. Que as igrejas evangélicas do Brasil possam retornar às suas raízes, à herança dos reformadores, aplicando-a com fidelidade, sabedoria e sensibilidade aos complexos problemas e carências dos dias atuais.


• Alderi Souza de Matos é doutor em história da igreja pela Universidade de Boston e historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil. É autor de A Caminhada Cristã na História e “Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil”.
asdm@mackenzie.com.br

domingo, 21 de maio de 2017

Pregando o evangelho para si mesmo

Há grande segurança na salvação que vem do Senhor. Deus nos escolheu em Cristo antes da fundação do mundo, e sua decisão permanece. O Espírito Santo nos fez nascer de novo, e não há meios pelos quais possamos destruir a vida que ele nos deu. Todo crente foi crucificado com Cristo, e em nenhuma parte da Escritura vemos uma maneira pela qual possamos não ser crucificados. Todo aquele que crê em Jesus Cristo é justificado, e nenhuma obra do homem ou de Satanás pode anular o veredito de Deus. Jesus exerce cuidado soberano sobre todo o seu povo. Aqueles que estão em suas mãos não podem ser tirados dele. Ainda assim, apesar da segurança e permanência de nossa salvação diante de Deus por meio de Jesus Cristo, podemos nos encontrar em sofrimento quando nos afastamos da esperança do evangelho.
E nos desviamos. Enquanto o desvio pode vir na forma de ceder à imoralidade, mais frequentemente se disfarça como uma espécie de Cristianismo. Para muitos, a vida cristã é guiada pela precisão doutrinária. Podemos devidamente valorizar nossa herança confessional e ver a importância de uma teologia robusta, mas esse pode se tornar o objetivo pelo qual nos esforçamos, enquanto perdemos a conexão de toda a teologia com o evangelho. O conhecimento muitas vezes “vangloria-se” e o orgulho resultante nos leva à confiança confessional mais que à confiança evangélica. Alguns cristãos baseiam a sua vida espiritual em emoções — os movimentos íntimos do coração que muitas vezes estão conectados com as profundas verdades de Deus. Mas enquanto as verdades de Deus nunca mudam, a nossa experiência destas verdades muda. E quando os sentimentos não estão presentes, nossa fé acaba em crise. Ao encontrar confiança em nossas emoções, nos desviamos do que deveria ser a nossa única esperança na vida e na morte. Muitos de nós perdemos de vista o evangelho enquanto nos concentramos em nossas próprias obras e em quão bem estamos indo espiritualmente. Ao nos medirmos por padrões autoimpostos, acreditamos ser fortes ou fracos, mas em cada caso a correção é encontrada em fazer o nosso melhor, em vez de na obra de Cristo.
Fundamentalmente, o evangelho é esquecido quando já não funciona como nossa esperança e confiança diante de Deus, ou quando se torna não essencial para o viver prático e diário da vida cristã. O evangelho que muitas vezes esquecemos deve ser recuperado e retido para a segurança das nossas almas, e isso é feito através da pregação do evangelho para nós mesmos.
Pregar o evangelho para nós mesmos é chamar a nós mesmos para nos voltarmos a Jesus por perdão, purificação, fortalecimento e propósito. É responder as dúvidas e medos com as promessas de Deus. Meus pecados me condenam? Jesus cobriu-os todos em seu sangue. Minhas obras são insuficientes? A justiça de Jesus é considerada como minha. O mundo, o diabo e minha própria carne estão conspirando contra mim? Nem mesmo um cabelo pode cair da minha cabeça se não for a vontade do meu Pai que está nos céus, e ele prometeu cuidar de mim e me guardar para sempre. Posso realmente negar a mim mesmo, carregar minha cruz e seguir a Jesus? Sim, porque Deus opera em mim o querer e o realizar segundo o seu próprio prazer. É a isso que se assemelha pregar para nós mesmos.
Essa pregação privada e pessoal só pode acontecer quando a Palavra de Deus é conhecida e crida; quando a lei de Deus revela nosso pecado e desamparo, e sua graça cobre esse pecado e supera as nossas fraquezas. Pregar o evangelho para nós mesmos não é simplesmente o ato de estudar a Bíblia (embora possamos pregar para nós mesmos nesse ato), mas é nos chamar ativamente a crer nas promessas de Deus em Jesus, seu Filho.
Pregamos para nós mesmos através das disciplinas da oração e meditação nas Escrituras. Na oração, buscamos a Deus para satisfazer graciosamente as nossas necessidades, e no ato em si exercemos fé. Em sua exposição da Oração do Senhor, Thomas Manton disse: “A oração… é uma pregação para nós mesmos na audiência de Deus. Nós falamos a Deus para nos confortar, não para a sua informação, mas para a nossa edificação”. As promessas do evangelho na Palavra de Deus nos guiam na oração, levando-nos à segurança da obra e sacrifício de Jesus. Pela meditação, lembramos o evangelho; pela oração, reivindicamos o evangelho como a nossa grande esperança.
A maioria de nós precisa redescobrir o evangelho. E tal redescoberta é necessária diariamente, porque nossa necessidade está sempre presente e nossos corações são propensos a se desviar. Mas a recuperação do evangelho só acontece quando nós sentimos o fardo dos nossos pecados, a fraqueza da nossa carne e a fragilidade da nossa fé. Isso significa que somente aqueles que sabem que são pecadores indignos e que a Palavra de Deus é verdadeira descobrirão que o evangelho não é apenas uma boa notícia, mas uma boa notícia para as suas próprias almas.

 Joe Thorn é o pastor principal da Redemer Fellowship em Saint Charles, Illinois.

sábado, 20 de maio de 2017

Igrejas, comunidades terapêuticas

Pessoas que se detêm diante do sofrimento de outros, param nas ruas, ouvem queixas, socorrem vizinhos, visitam hospitais e presídios. Fazem tudo anonimamente, seguindo o exemplo do samaritano da parábola de Jesus (Lc 10.25-37).
Grupos cristãos que se mobilizam para socorrer necessitados, distribuindo alimentos e remédios, revezando-se ao lado de doentes, acompanhando solitários. Eles se inspiram na advertência de Jesus: “[...] sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (Mt 25.40).
Comunidades singelas que se reúnem nas periferias, acolhendo os aflitos, juntando-se em oração, mobilizando recursos, abrindo espaços de socialização e autenticação de identidades. O desafio é se manterem fiéis ao ensino do Mestre: “[...] quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva” (Mt 20.26).
Igrejas mais organizadas, inseridas na vida urbana, que se empenham em superar tendências individualistas e preconceituosas, formando grupos solidários e comprometidos, juntos nas alegrias e nas tristezas da vida. São expressões de reconhecimento daqueles que experimentam o amor de Deus: “Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1Jo 4.19).
Todos estes exemplos sinalizam a presença da Igreja do Senhor Jesus Cristo. Em meio ao mundo impregnado pelas inúmeras expressões do pecado individual e coletivo, apontam que é possível ser diferente. Deus quer que façamos diferença, pois “o próprio Filho do homem não veio pra ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10.45).
Ao longo dos tempos, os cristãos têm sido despertados para a responsabilidade de vivenciar o evangelho em sua integralidade. A mesma mensagem de fé e esperança revelada na Bíblia ganha, em diferentes contextos, linguagem que se articula com o momento histórico. Práticas que porventura se encontram esquecidas são então atualizadas e revelam novas expressões do amor cristão.
Vejamos aqui um exemplo desta aproximação, considerando um conceito que vem sendo difundido a partir da segunda metade do século 20. Desde então, tornou-se comum nos meios assistenciais falar em comunidade terapêutica, na busca de resgatar princípios e implementar práticas efetivas na promoção da saúde.
Partiu-se da observação de que diversas instituições da sociedade não cumprem o seu papel em benefício das pessoas. Cientistas sociais foram pioneiros nessa crítica, tendo-se como referência o trabalho de Erving Goffman, caracterizando o que chamou de “instituições totais” – aquelas que se propõem a abrigar pessoas em regime fechado, prometendo suprir todas as suas necessidades. A constatação é que, em tais ambientes, a despeito de toda boa vontade propalada, tende-se ao autoritarismo, sendo imposta uma hierarquia rígida, que leva à humilhação e à desumanização dos assistidos.1 Nesse contexto, as instituições que acolhem doentes mentais mostraram-se exemplos típicos de tal perversão de propósitos.
No Brasil, os grandes hospitais psiquiátricos surgiram ainda no século 19 (no Rio de Janeiro) e no começo do século 20 (em Franco da Rocha, Barbacena, Niterói, Recife, Fortaleza, entre outras cidades). Em geral, eles detinham grandes extensões de terras e foram criados com a proposta de recuperação por meio das atividades rurais. Aos poucos, porém, tornaram-se grandes depósitos humanos, servindo para propósitos de exclusão social. Mesmo clínicas menores, de origem mais recente, incorreram nas mazelas anteriores, pois obedeceram à mesma lógica autoritária. Devemos reconhecer que tais instituições ainda são encontradas entre nós.
Surgiram então propostas de mudança, com a disposição de transformar tais instituições em comunidades que assumissem características realmente terapêuticas. O psiquiatra britânico Maxwell Jones destacou-se nessa direção, impulsionando um movimento que ganhou repercussão mundial.2 Para ele, algumas características precisam ser cultivadas nas instituições de saúde para que seus propósitos maiores sejam alcançados, tais como desenvolver um clima de convivência espontânea, em que predominem o respeito, a aceitação e a compreensão mútuos; cultivar um pacto de compromisso entre todos os envolvidos, em que direitos e deveres sejam respeitados; praticar uma liderança horizontal, sem rigidez hierárquica, exercida de forma democrática, em rodízio, que possa emergir segundo a competência, a ocasião e a necessidade; exercer o papel terapêutico como atribuição de todos os membros, mesmo daqueles com funções aparentemente simples, e dos próprios assistidos, em interação mútua.
Não tardou que se vislumbrasse certo paralelismo entre as propostas do movimento que crescia no campo da saúde mental e aquelas provenientes do evangelho. Além de todos os estímulos encontrados ao longo da narrativa bíblica, sobretudo nos ensinos e na própria vida do Senhor Jesus, o livro de Atos dos Apóstolos traz descrições encorajadoras sobre o dinamismo inerente às comunidades cristãs. 
Em evento promovido pela Fraternidade Teológica Latino-Americana, realizado em Itaici, SP, em 1977, surgiu a proposta de articular o conceito de comunidade terapêutica com a dinâmica das nossas igrejas. Coube ao doutor Daniel Schipani, teólogo e psicólogo argentino, apresentar o documento definitivo: Iglesia, comunidad sanadora! [Igreja, comunidade curadora!]. Os pontos chaves de sua tese são:
• A reconciliação que experimentamos por meio da obra salvadora de Jesus Cristo é também uma ação curadora de Deus em cada um de nós;
• Tal reconciliação tem alcance amplo, assumindo a forma de terapia da pessoa integral;
• Jesus Cristo pode ser tomado como o terapeuta por excelência;
• Cada comunidade cristã, sendo portadora da mensagem transformadora do evangelho, deve assumir seu amplo papel como agente desta terapia radical.
Na mesma direção surgiu o interessante livro “Curar Também é Tarefa da Igreja”, do pastor e médico psiquiatra, também argentino, Ricardo A. Zandrino.3 Ele destaca que a ação terapêutica das comunidades cristãs se expressa pela aceitação das pessoas, pela prática da confissão mútua, pelas manifestações de perdão, pelo exercício da oração intercessória, pela convivência grupal e pelo serviço cristão às pessoas e à sociedade, entre outras maneiras.
Está claro que tais recursos oferecidos pelas comunidades cristãs não excluem a busca pela ajuda de profissionais específicos e de instituições de saúde disponibilizados pela sociedade em geral.
Com esta inspiração, o Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos, fundado em 1976, assumiu a difusão da proposta de articular a prática das igrejas com o conceito de comunidade terapêutica. Tomamos como compromisso envolver-nos em participação e apoio às instituições cristãs, com a disposição de juntos encarnarmos a ampla proposta redentora de Jesus Cristo. Cremos que assim estamos sinalizando, ainda que de forma limitada, a promessa de vida plena que nos aponta para novos céus e nova terra.
Chamamos a atenção para o papel que os cristãos podem e devem exercer em face dos desafios de transformar a realidade da assistência em saúde mental. Vemos que isso se faz urgente, diante da disseminação do uso de substâncias psicoativas, especialmente entre os jovens da nossa sociedade. Sugerimos então alguns exemplos de contribuições que podemos oferecer:
• Rever preconceitos que excluem os doentes e seus familiares, abrindo espaço para acolhê-los e ajudá-los na convivência pessoal e grupal;
• Oferecer serviços de “acompanhamento terapêutico”, isto é, passar um período com os doentes em atividades de lazer, cultura, devoção etc.;
• Incentivar a criação e ampliação dos serviços, especialmente os extra-hospitalares. O espaço ocioso das igrejas e instituições religiosas pode ser muito bem usado para tal. A participação de conselheiros cristãos beneficiará os usuários dos serviços, bem como os próprios profissionais da saúde;
• Estimular famílias para que “adotem” pessoas para que, após anos de reclusão, possam ser reintegradas à vida em comunidade;
• Criar lares ou pensões “protegidas”, que ofereçam acolhimento temporário durante viagem ou alguma crise familiar, com a retaguarda de profissionais; • Participar dos conselhos de saúde, pois são eles que definem os planos de ação e o uso dos recursos no setor, recebendo fortes pressões de interesses e grupos. É necessária uma ação ordenada e coesa na direção do que realmente interessa à população.
Logo, vê-se que o esforço isolado de alguns não é suficiente. A força da coletividade, da organização grupal e da ação programada pode e deve ser mobilizada, garantindo resultados maiores. As igrejas cristãs dispõem, por certo, de recursos humanos e materiais para que tal propósito seja alcançado e, sobretudo, contam com inspiração e direção, quando firmadas na condução do Espírito de Deus.
Cabe, por fim, reafirmar que não se trata de implementar simples atos de caridade. Na verdade, a ponte da solidariedade é de mão dupla e os mais beneficiados costumam ser aqueles tidos como sãos e mais favorecidos. É sempre oportuna a frase atribuída a Abraham Lincoln, quando diante de alguém acometido por infortúnio aparentemente maior: “Ali, apenas pela graça de Deus, não estou eu”.
As comunidades cristãs só têm a ganhar quando se abrem em acolhimento ao doente, ao necessitado e ao diferente. Os desafios trazidos nos levam ao exercício dos diversos dons, à busca por recursos ainda latentes, à promoção de mudanças que beneficiam a todos. Afinal, as situações de aparente desgraça são, na verdade, oportunidades para a intervenção da graça de Deus. Ele pode nos usar para tal, fazendo-nos participantes das manifestações de sua misericórdia.
Referências bibliográficas
1. GOFFMAN, Erving. Manicômios, prisões e conventos. Trad. Dante Moreira Leite. São Paulo: Perspectiva, 1974.
2. JONES, Maxwell. The therapeutic community; a new treatment method in psychiatry. Nova York: Basic Books, 1953.
3. ZANDRINO, Ricardo A. Curar também é tarefa da igreja. São Paulo: Nascente, 1986. 
• Uriel Heckert, médico psiquiatra, é mestre em filosofia e doutor em psiquiatria. É membro do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos e da 4ª Igreja Presbiteriana de Juiz de Fora.

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Teu amor faz inimigos?

Vejo como é comum grande parte dos cristãos serem enganados com a ideia de que a característica principal que deve nos distinguir do mundo como cristãos, seja a “bondade” – Jesus disse que era nosso amor que devia indicar que de fato somos seus discípulos ( João 13.35 )  - mas muitos tem usado isso para nos enganar... tomamos este amor por significar uma docilidade simplória, plácida... mas o amor dito aqui não é fácil, arrumado, dócil... É um trabalho árduo que exige coragem. Amar nossos inimigos, implica ter inimigos.

Nos primeiros capítulos do livro de Josué, um contraste interessante é mostrado a nós. Depois que Moisés morreu, Deus é imperativo com Josué: “Seja forte e corajoso!” – E Josué faz o mesmo com o povo, as tribos, e lhes diz: “Sejam fortes e corajosos!” ( Js 1.6,7,9,18).

Eles vão enfrentar uma luta terrível, e ela está logo adiante deles, e devem estar preparados para a batalha a frente – será duro. Seus inimigos eram realmente inimigos ferozes, fortes e poderosos, com cidades fortificadas.

Mas uma coisa é notável. Quando os espiões são escondidos por Raabe, a prostituta de Jericó, ela insinua para eles que os inimigos do povo de Deus estão apavorados, que seus corações derreteram, e que a coragem dos homens de Jericó fugiu deles – Js 2.11.  Você vê isso? O povo de Deus, quando é obediente a Ele, deve ser um terror para seus inimigos.

É paradoxal. A igreja deve ser totalmente militante no avanço do Evangelho da Paz. Nossa espada é a Palavra de Deus, e é desamor não proclamar a Verdade ofensiva da Cruz e a realeza de Cristo sobre todas as nações e todos os homens.


Devemos ter em mente que Deus vai destruir seus inimigos, muitas vezes isso significará ( Graças a Deus ) transformá-los em Seus amigos. Mas devemos ser conhecidos pelo nosso amor, que realmente aterrorizará os inimigos de Deus e sua Igreja.  É o que a Verdade faz num mundo de mentiras.


Para muitos cristãos, pensar em ter inimigos é uma coisa ruim -  e então pensam que devemos fazer tratados de paz com nossos inimigos simplesmente abrindo mão da Verdade e da pureza da Palavra de Deus e abraçando o humanismo secular.


É a paz através de comprometer a verdade – mas isso não é paz e nem amor. Nesta era do Evangelho, Deus pretende destruir seus inimigos convertendo-os através do poder da Verdade da Sua Palavra.


Não se trata de termos “argumentos vencedores” – é uma vitória baseada na confiança e amor ao e do Evangelho, que invariavelmente realizará o que Deus pretende através de nós.


A Bíblia diz que “onde quer que Paulo fosse, havia tumultos” – Isso exatamente que grande parte dos cristãos não querem. Então redefinem o significado de amor e paz que deve nos caracterizar, comprometem o Evangelho e a Verdade – E ficam em “Paz” com o mundo.


“Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” Tiago 4:4


Precisamos amar e calçar o evangelho da paz como Paulo o fez: “onde ele foi houve tumultos...” Mas só esse é o amor que leva a Verdade em nome do Príncipe da Paz... para um mundo que ama as trevas.
 

quinta-feira, 18 de maio de 2017

A Metapsicologia Ateísta de Freud

Existem, pelo menos, três grandes teorias ateístas que têm moldado fortemente a cultura contemporânea em oposição à cosmovisão cristã: o marxismo, o darwinismo e o freudianismo. Já tratei da sangrenta e herética ideologia marxista aqui e também fiz pontuações sobre o cientificismo do evolucionismo (neo)darwinista aqui, cabe agora fazer algumas considerações sobre a psicanálise freudiana.

PRESSUPOSTOS DA PSICANÁLISE FREUDIANA

O freudianismo se sustenta sobre três pressupostos básicos[1]:


1. Ontologia materialista: Segundo a metapsicologia freudiana, a natureza do mental é material. Os estados mentais inconscientes são, em última instância, estados cerebrais.
2. Epistemologia naturalista: A psicanálise freudiana está alinhada com o naturalismo científico. O homem é concebido a partir de um ponto de vista antropológico naturalista como uma espécie biológica e a psicanálise é entendida como uma ciência natural.
3. Metodologia pessimista: A técnica utilizada pela psicanálise é a associação livre, na qual o sujeito articula livremente a fala e o analista fica em atenção flutuante atento, não à fala em si, mas as manifestações do inconsciente. O pessimismo terapêutico do freudianismo questiona a possibilidade da felicidade, pois há uma tendência natural no psiquismo (a pulsão de morte) para a autodestruição.

Ao assumir uma ontologia materialista e uma epistemologia naturalista, a psicanálise freudiana se coloca em contradição com a antropologia cristã, que concebe o homem como dotado de uma alma racional e imortal. O materialismo freudiano destrói o fundamento da dignidade humana ao conceber o homem como um mero amontoado de células. Além disso, por seu materialismo mecanicista, Freud compreende um determinismo psíquico segundo o qual as “escolhas” humanas em Freud são vistas como determinadas pela rede de conexões causais dos processos do inconsciente:

“Notarão desde logo que o psicanalista se distingue pela rigorosa fé no determinismo da vida mental. Para ele não existe nada insignificante, arbitrário ou casual nas manifestações psíquicas. Antevê um motivo suficiente em toda parte onde habitualmente ninguém pensa nisso; está até disposto a aceitar causas múltiplas para o mesmo efeito, enquanto nossa necessidade causal, que supomos inata, se satisfaz plenamente com uma única causa psíquica” [2]

Era de se esperar que dessa antropologia naturalista viesse um pessimismo terapêutico. A morte é o único destino que resta ao homem. Não há esperança de cura para as patologias psíquicas e os desejos do homem são insaciáveis. Com base na insaciabilidade desses desejos, Freud argumentava contra a existência de Deus dizendo que Ele era apenas uma projeção dos fortes desejos internos do coração humano. O indivíduo se sentiria impotente na idade adula criando uma figura paterna semelhante aquela que lhe protegeu na infância:

“A psicanálise dos seres humanos de per si, contudo, ensina-nos com insistência muito especial que o deus de cada um deles é formado à semelhança do pai, que a relação pessoal com Deus depende da relação com o pai em carne e osso e oscila e se modifica de acordo com essa relação e que, no fundo, Deus nada mais é que um pai glorificado.”[3]

O argumento de Freud poderia ser colocado assim: (1) Uma ilusão é uma projeção dos nossos desejos sem bases no real; (2) Deus é uma projeção dos nossos desejos sem bases no real; (3) Logo, Deus é uma ilusão. A verdade, por outro lado, é que a paternidade de Deus na Trindade é o arquétipo das paternidades humanas, não o contrário. [4] Freud comete uma falácia genética por querer invalidar a verdade de uma crença com base em sua possível origem.

Além disso, como o próprio Freud reconhece, a relação com o pai reserva uma ambivalência de amor/ódio em que a criança deseja a proteção do pai e ao mesmo tempo deseja a morte do pai. Neste caso, mesmo o ateísmo poderia ter alguma base no desejo. A rejeição de uma Autoridade Última poderia ter bases no desejo de que ninguém interferisse nas nossas vidas. Podemos observar também, como disse C.S. Lewis, que a existência em nós de um desejo que não pode ser saciado neste mundo indica a existência de uma Satisfação além mundo para esse desejo [5].      

COMPLEXO DE ÉDIPO E MORALIDADE

O freudianismo busca fornecer uma solução para o problema da moralidade no ateísmo. Se não existe Deus, como explicar a culpa que o homem sente por suas transgressões da lei? Nesse sentido, a psicanálise desenvolveu a ideia de um conflito universal chamado “Complexo de Édipo”.

Freud acreditava que existiram hordas primitivas nas quais o patriarca detinha sob o seu poder todas as mulheres da horda. Isso levou a uma revolta por parte dos filhos que mataram o pai. A morte do pai deu origem ao sentimento de culpa, pois os filhos alimentavam um sentimento ambivalente de ódio/amor pelo pai, visto que o patriarca também era fonte de proteção.

Ninguém teve coragem de substituir o lugar do Pai. O Pai foi substituído, então, por um símbolo religioso (totem) e foram instauradas duas leis: “Não matar o pai” (proibição do parricídio) e “Não tomar as mulheres da horda” (tabu do incesto). Essas duas proibições fundaram a civilização humana, de modo que essas leis estão presentes em todas as culturas: “A cultura totêmica baseia-se nas restrições que os filhos tiveram de impor-se mutuamente, a fim de conservar esse novo estado de coisas. Os preceitos do tabu constituíram o primeiro ‘direito’ ou ‘lei’.” [6]

Essa ocorrência fundante da cultura ocorre também em cada homem individualmente. Para Freud, a criança, desde o nascimento, experimenta vários prazeres sexuais. Primeiro ela se excita oralmente com o seio materno, depois com o prazer anal da defecação, até chegar a uma fase em que começa a teorizar sobre o pênis.

Toda criança acreditaria, a princípio, que o pênis é universal. Para o menino, tudo e todos possuem pênis, até que ele descobre que meninas não o possuem. Essa descoberta geraria uma angústia na criança que, imaginando que as meninas perderam seu pênis, teme perder o seu também. O menino teme ser castrado pelo pai e por isso passa a desejar que o pai morra para que ele possa ficar com a mãe.

A percepção e aceitação das diferenças sexuais anatômicas pela criança seria o que proporcionaria a formação de uma agência psíquica moral reguladora (superego) possibilitando que a criança se converta de um pequeno selvagem para um adulto civilizado. Civilizar-se, no entanto, exige o recalcamento dos desejos incestuosos pela mãe e do desejo da morte do pai, o que torna o homem civilizado um neurótico angustiado.

A consciência moral (superego), portanto, seria formada com a dissolução do complexo edípico. A agência de censura psíquica se construiria na infância a partir da relação com os pais:

“O longo período da infância, durante o qual o ser humano em crescimento vive na dependência dos pais, deixa atrás de si, como um precipitado, a formação, no ego, de um agente especial no qual se prolonga a influência parental. Ele recebeu o nome de superego. Na medida em que este superego se diferencia do ego ou se lhe opõe, constitui uma terceira força que o ego tem de levar em conta.” [7]

O Cristianismo, por outro lado, defende que todos já nascem com a lei gravada em seus corações. E, novamente aqui, a psicanálise freudiana está em oposição à antropologia cristã: “Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os” (Romanos 2.15). 

Paulo está respondendo à pergunta: “Como os gentios poderiam ser culpados de negar o Deus verdadeiro e de quebrar a Lei, se Deus e sua Lei não foram revelados a eles como o foi a Israel?” Paulo responde isso dizendo que eles conhecem Deus e a Lei por meio da natureza, tanto externa, quanto interna. Portanto, eles são condenados com base na Lei objetiva de Deus gravada no coração humano. Paulo não tem em mente uma consciência subjetiva construída durante o desenvolvimento psíquico, ele tem em mente a consciência judiciosa que Deus implantou na natureza humana. 

Além disso, o pecado não pode ser reduzido a uma noção psicologista de “id”, nem a culpa deve ser entendida como um desprazer ocasionado pelo acúmulo de energias no aparelho psíquico. Biblicamente os pecadores são real e verdadeiramente culpados pelos seus pecados. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A psicanálise freudiana é uma teoria materialista, naturalista, determinista e reducionista, cujos pressupostos estão em evidente oposição à Cosmovisão cristã. A concepção de moral da Psicanálise, como baseada numa instância psíquica formada com a dissolução do complexo edípico, é oposta ao ensino bíblico de que Deus imprimiu a lei na natureza do homem. Sendo assim, a metapsicologia freudiana, assim como a ideologia marxista e o darwinismo cientificista, é uma teoria ateísta.

Fonte: Bereianos

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Recomeço

"Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?" - Romanos 7:24

Todos os dias, a todo momento essa teria que ser nossa "válvula de escape", o nosso "cair em si". Não me canso de meditar nesse versículo, principalmente nos últimos dias, as constantes vezes em que eu falho, com meus amigos, meus entes queridos, comigo mesmo e principalmente com meu Deus.

Mas não é tarefa fácil reconhecer nossas limitações e que estávamos no erro, é muito difícil, normalmente achamos "N" desculpas para embasar nosso ponto de vista e maquiar nossos pecados.

Creio na misericórdia do nosso Senhor e da sua fidelidade por meio da sua Graça, que por ação do Espírito Santo, não nós debatemos ainda mais.


Mas enfim Paulo em Romanos 7:24 reconheceu sua condição pecadora, e proferiu essas humildes palavras, que como disse deveriam ecoar em nossa mente cristão a todo momento. 

Vejo dezenas de pessoas se denominando radicais ou cheias do Espírito Santo, mas não como Paulo estava quando descreveu seu estado aqui na terra. É bem verdade que para quem está na luz, ou é realmente um cristão autêntico essas palavras soam como uma redundância, mas não devemos esquecer nunca de nossa condição.

"Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal." - 1 Timóteo 1:15

Minhas mãos tremem só de pensar e me entristeço do homem que me tornei, das falhas que já tive, entendo Paulo, ele era mau, era implacável, achava que fazia a vontade do Senhor, mas na verdade prestava um desserviço ao Reino.

Mas o Evangelho um dia cruzou seu caminho e ele simplesmente caiu do cavalo, e a verdade o cegou ao ponto dele ver as escamas caindo de seus olhos.

O objetivo desde texto é dizer a todos que leram e arderam seus corações ao ver o seu eu lá no fundo "agachado", tremendo de frio e com medo, nas profundezas do seu interior, e dar uma certeza: ainda não acabou!

"Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo;" - Filipenses 1:6

Creia que a obra que foi consumada na cruz irá te dar um Recomeço.

E a vida que jorra do trono do Altíssimo lhe conduz para a Glória. Lá sim você estará livre totalmente de você mesmo!

Fonte: Voz que Clama do Deserto

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