“Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe” (Lc 17.3).
Depois de alertar seus discípulos sobre a inevitabilidade dos
escândalos e a tragédia que desabará sobre aqueles por meio de quem os
escândalos vêm, Jesus trata da necessidade de perdoar aqueles que falham
conosco. No texto em tela, Jesus ensina cinco passos necessários para o
pleno perdão.
Em primeiro lugar, a cautela (Lc 17.3). “Acautelai-vos…”. A cautela é
imperativa porque onde o perdão é necessário, os relacionamentos já
estão fragilizados, as emoções já estão esfalfadas e as feridas já estão
abertas. Sem cautela pode existir arrogância no trato do assunto,
deixando a relação ainda mais adoecida. Quem pede perdão precisa ter
humildade para reconhecer o seu erro e quem concede perdão precisa ter
graça para não pleitear justiça, mas exercer misericórdia.
Em segundo lugar, a repreensão (Lc 17.3). “Acautelai-vos. Se teu
irmão pecar contra ti, repreende-o…”. Jesus está falando que o
relacionamento, mesmo entre irmãos, pode ter falhas e precisar de
reparos. O caminho para a restauração não é dar tempo ao tempo. O tempo
não cura as feridas. Também, o caminho não é o silêncio, pois este não é
sinônimo de perdão. O remédio para curar as feridas da mágoa é a
repreensão. Longe da pessoa ofendida espalhar sua mágoa, contando a
outras pessoas a desavença fraternal, denigrando a imagem de quem a
feriu, deve procurar a pessoa para um confronto direto, pessoal e
sincero, mas cheio de amor. Essa repreensão é, ao mesmo tempo, firme e
terna, a ponto de não acobertar o erro nem negligenciar a compaixão. A
verdade em amor é terapia divina para curar os males que afligem os
relacionamentos. Verdade sem amor machuca; amor sem verdade adoece.
Em terceiro lugar, o arrependimento (Lc 17.3). “Acautelai-vos. Se
teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender…”. O amor é
incondicional, mas o perdão não. O perdão precisa passar,
necessariamente, pelo arrependimento. O ofensor precisa reconhecer seu
pecado diante da pessoa a quem ofendeu. Esse reconhecimento implica em
admitir o erro, sentir tristeza pelo erro e dispor-se a abandonar o
erro. Com essas disposições, o ofensor deve procurar o ofendido para
expor seu arrependimento. Em assim fazendo, o ofendido não tem outra
opção senão perdoar imediatamente e completamente.
Em quarto lugar, o perdão. (Lc 17.3). “Acautelai-vos. Se teu irmão
pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe”. O
perdão é a disposição de tratar o ofensor como irmão, sem jogar em seu
rosto o seu pecado. Perdoar é zerar a conta e não cobrar mais a dívida.
Perdoar é tratar a pessoa arrependida como se ela nunca tivesse pecado.
Perdoar é restaurar o relacionamento e recomeçar uma relação de
confiança. O perdão quebra a parede da separação e abre os portais da
graça para aceitar de volta o que falhou, dando-lhe a oportunidade de
começar outra vez a bendita relação de amizade. O perdão traz cura para
quem cometeu o erro e alegria para quem exercitou a misericórdia. Na
parábola do Filho pródigo, quem demonstra alegria é o pai que perdoa e
não o filho perdoado. O perdão é a assepsia da alma, a faxina da mente e
a cura das emoções. O perdão é terapêutico, pois dele emana a
restauração da alma.
Em quinto lugar, a fé (Lc 17.4,5). “Se, por sete vezes no dia, pecar
contra ti e, sete vezes, vier ter contigo, dizendo: Estou arrependido,
perdoa-lhe. Então, disseram os apóstolos ao Senhor: Aumenta-nos a fé”. O
perdão ilimitado não é uma capacidade inata que possuímos, é uma
operação da graça de Deus em nós. Não temos essa disposição nem esse
poder. Somente quando o Senhor aumenta nossa fé podemos perdoar, de
forma ilimitada, como Deus em Cristo nos perdoou. O perdão não é uma
opção, mas uma ordem divina e uma necessidade humana. Quem não perdoa
destrói a própria ponte sobre a qual precisa passar.
Rev. Hernandes Dias Lopes
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