"O Cristo abstrato até se assemelha com o Cristo da vida, pois tentar
ser uma bela pintura de sua face, mas a verdade é que ainda continua
sendo apenas um retrato, e no retrato não há vida, há saudades, mas não
abraços, lembranças, mas não esperança, essas só encontramos no Cristo
vivo."
Esta reflexão tem ocupado um grande espaço em minha
construção teológica. Não tenho dúvidas quanto a nossa capacidade em
teologizar no Brasil, entretanto, parece-me haver uma grande dificuldade
do encontro entre o que teologizamos e a vida, não experimentamos a
teologia que tanto advogamos, há um abismo entre teologia e vida. Não
temos dificuldade para compreendermos a centralidade do Cristo, nossa
teologia está muito afinada quanto a tudo isso, conseguimos sistematizar
o Cristo em uma cristologia refinada, impecável, mas que nada é além de
uma sistematização. Isso é muito bom, desde que não se submeta
simplesmente a transmitir um objeto de análise, mas um Cristo vivo em
nós também. O que mais me parece atualmente é que cada vez mais o Cristo
tem se tornado um objeto abstrato, ou seja, existe um desenvolvimento
intelectual em sua direção, mas o objeto da reflexão (o Cristo) está
isolado de fatores que comumente são relacionados à realidade,
concebemos a imagem mental do Cristo, mas não sabemos como viver nossa
vida com Ele, como parte viva, então o reduzimos a rituais e
formalidades.
A concepção da imagem do Cristo, não salva, não
liberta e não transforma. O Cristo é para ser experimentado no
cotidiano, entre o nascer e pôr do sol, entre uma respiração e outra,
entre um oi e um tchau, entre o início e o fim da jornada de trabalho. É
nessa perspectiva que o Cristo ganha forma em nós e crescemos em sua
direção para que possamos nos tornar semelhantes a Ele. O Cristo
abstrato até se assemelha com o Cristo da vida, pois tentar ser uma bela
pintura de sua face, mas a verdade é que ainda continua sendo apenas um
retrato, e no retrato não há vida, há saudades, mas não abraços,
lembranças, mas não esperança, essas só encontramos no Cristo vivo. É
Nele, que encontramos as respostas para os anseios de nossas almas. Mas o
que fizemos Dele? O reduzimos a conceitos teológicos, reduzimos o seu
poder salvífico a aceitarmos um apelo, o seu amor a meritocracia, à sua
adoração em erguermos as nossas mãos, o seu culto a um momento, o
reduzimos a uma teologia sistemática, nós o tornamos em um Cristo
abstrato. Mas esse não é o Seu propósito e muito menos Seu lugar, a
tinta vermelha das escrituras apontam para o centro da nossa vida, dos
nossos corações, do nosso ser, esse é o Seu lugar, entronizado em nós,
aonde talvez ainda não se tenha uma imagem perfeita Dele, mas há sua
presença, amor e graça.
Que haja teologia, mas que haja vida no Cristo da teologia!
Sao Carlos - SP
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