Mas é nisso que se resume a ideia de igreja viva? Uma igreja genuína, autêntica e cheia de vida é a mesma coisa que uma organização dinâmica, eficaz e engajada? É possível identificar traços de uma igreja viva?
Os reformadores do século 16 e a teologia reformada até os dias de hoje falam de uma igreja verdadeira e a definem como igreja onde se prega a Palavra verdadeira, os Sacramentos são administrados fielmente e a disciplina é exercida com eficácia. À medida que o movimento reformado se estabelecia como movimento religioso e eclesiástico independente da igreja romana da época, e muitos outros movimentos de reforma iam surgindo, alguns defendendo uma ruptura mais radical com as práticas e formas da igreja medieval, foi preciso os reformadores estabelecer os parâmetros de uma verdadeira igreja.
Hoje, diante da multiplicação de igrejas, movimentos, comunidades e grupos religiosos cristãos evangélicos, muitos dos quais com grande projeção nas mídias, arrojo de ações e imagens, fortalecimento institucional, e outros indo na contramão dessas tendências, optando por informalidade e valorização das relações em vez das estruturas, é preciso refletir sobre a igreja viva.
Rick Warren (A igreja com propósito) e Christian Schwarz (O desenvolvimento natural da igreja) entendem que a igreja cresce naturalmente e se não está crescendo há algo de errado, por isso, todo pastor deve perguntar não “como fazer a igreja crescer?”, mas “o que está impedindo a igreja de crescer?”. Essa visão demonstra uma ideia de que a igreja é organismo vivo e se não cresce é porque ela está enferma. No entanto, revela também um conceito de crescimento principalmente numérico. Mas essa visão de crescimento foi desafiada muitos anos atrás por autores latino-americanos, dentre os quais Orlando Costas, que defendia um crescimento mais holístico da igreja pelas dimensões numérica, orgânica, conceitual e diaconal. Desse modo, os sinais de uma igreja viva não podem ser constatados somente pelo crescimento numérico e pelo seu funcionamento.

A passagem de Atos 2.42-47 é frequentemente usada para ilustrar e fundamentar a igreja saudável. Os primeiros convertidos perseveravam na doutrina, partiam o pão, na reunião para comunhão, oração e adoração, na manifestação do poder pelos sinais e prodígios, na assistência aos necessitados por meio da partilha dos bens e do serviço diaconal, e cresciam em número.
Os ensinos de Paulo em Romanos, 1 Coríntios e Efésios sobre os dons espirituais são também usados para descrever uma igreja viva. Nessa igreja, cada membro exerce o seu dom ou ministério para a edificação do corpo. Mas como vemos na carta aos Coríntios, aquela igreja demonstrava a presença de diversos dons, porém, ela possuía também diversas fraquezas, problemas e divisões. Por isso, não é só a presença do carisma que revela a presença do Espírito e a essência de uma igreja viva. Paulo insiste muito na unidade e no discernimento do corpo.
Mas uma igreja viva não é só aquela que realiza o ministério por obra do Espírito Santo. É também a igreja cujos membros andam no Espírito e demonstram o fruto do Espírito em suas vidas. Se, assim como John Stott que sonha com uma igreja bíblica, adoradora, acolhedora, que sirva e que espera, eu puder sonhar e desejar uma igreja viva, eu gostaria de ver mais amor, alegria, paz, bondade, benignidade, longanimidade, fidelidade, mansidão e domínio próprio – o fruto do Espírito – na vida dos membros, nas estruturas, ações, pregações e ministérios da igreja. Uma igreja que equilibra o carisma com o caráter.
Pastor presbiteriano, doutor em Antigo Testamento e diretor acadêmico da Faculdade Teológica Sul-Americana, em Londrina (PR).
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