Quando pensamos em uma reconciliação pressupomos que antes deva ter
ocorrido uma ruptura relacional. E é dentro da família onde as rupturas
são mais fáceis de acontecer, pois é o espaço onde a convivência é
maior.
Filhos que se sentem injustiçados, cônjuges que se sentem
colocados em um segundo plano, pais que se sentem desrespeitados, irmãos
que entram em escalonamento de disputa pelo afeto parental, avós que
querem interferir no sistema da família nuclear dos filhos, etc., são
algumas coisas que promovem rupturas no seio da família.
>>> Acontece nas Melhores Famílias <<<
Um
exemplo nos evangelhos é a disputa entre as irmãs Marta e Maria quando
recebem uma visita de Jesus (Lucas 10: 38-42). Haviam tarefas a serem
realizadas, gente para ser alimentada, muita gente, e Marta trabalhava
exaustivamente para dar conta, enquanto sua irmã, tranquilamente,
sentava-se aos pés de Jesus para ouvi-lo. Será que Maria não se dá conta
da situação? Não, deduziu Marta: “Ela está é fazendo ‘corpo mole’ e eu
aqui me matando de trabalhar”.
Sim, quando não entendemos o
comportamento do outro sempre tendemos a encontrar uma explicação que
seja plausível dentro de nossos esquemas mentais – na maioria das vezes
culpabilizando o outro. Segundo Laura Holcroft, citando São Bento,
afirma que “Marta havia perdido a alegria e estava ansiosa (...) porque
só praticava a mortificação externa do trabalho e se esqueceu de
‘ruminar’ sem cessar a Palavra de Jesus. Maria, pelo contrário, ruminava
na Palavra sem cessar... havia elegido a única coisa necessária”.
Na
ansiedade e exaustão das tarefas (mortificação externa), Marta tem uma
reação de ruptura relacional (queixa) em relação à sua irmã, Maria, e
leva esta queixa a Jesus, que lhe indica o caminho da reconciliação.
Como se Jesus lhe dissesse: “Marta, tarefas são importantes, mas te
deixam ansiosa e tua ansiedade te faz perceber a atitude de tua irmã de
uma forma limitada. Veja, ela escolheu algo que não se desorganizará com
a chegada das próximas visitas, algo que ela poderá guardar como um
tesouro que não acaba ao final da hospedagem. Talvez, Marta, você
precise refletir mais e de forma menos ansiosa (mortificação interna) e
verá que essa é a melhor parte”!
>>> Famílias em Crise <<<
O
episódio nos indica algumas coisas importantes no processo de
reconciliação dentro da família. Em primeiro lugar, devemos sempre nos
perguntar se a mossa percepção é a única e possível explicação para o
ocorrido ou se existem outras possibilidades de explicação que, em
virtude de minhas emoções alteradas, eu resisto perceber. Na maioria das
vezes, não enxergamos a realidade como ela é, mas sim como nós somos!
Se
essa análise é muito difícil no momento de agito emocional, uma segunda
iniciativa pode ser tentada, que é levar a sua percepção até Jesus e
ouvir – com coração disponível – o que ele tem a nos dizer sobre nossa
percepção. Talvez, como fez com Marta, ele nos revele que há coisas mais
significativas que disputas por tarefas domésticas.
Em terceiro
lugar, é preciso “buscar a melhor parte”, que é a leitura e meditação
contínua na palavra de Deus. Então poderemos nos recordar que “no que
depender de vós, tende paz com todos” (Romanos 12:18); e também que se
meu irmão fez algo contra mim, devo buscar a reconciliação com ele,
antes de buscar o culto a Deus (Mateus 5:23-25). Por fim, meditar também
que Deus reconciliou consigo todas as coisas e nos torna “ministros de
reconciliação” (II Cor. 5:18), ou seja, devemos ser as primícias de
exemplo na busca de reconciliação, principalmente nas rupturas que
ocorrem dentro de nossas famílias!
• Carlos “Catito”, psicólogo e terapeuta de casais e de família. É autor de Pais Santos, Filhos Nem Tanto.
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