“Ergam os olhos e olhem para as alturas. Quem criou tudo isso? Aquele
que põe em marcha cada estrela do seu exército celestial, e a todas
chama pelo nome. Tão grande é o seu poder e tão imensa a sua força, que
nenhuma delas deixa de comparecer!”
(Is 40.25-26)
Deus nos
convoca para algo que, com freqüência, cai no esquecimento: “Ergam os
olhos e olhem”. O que temos visto? Dependendo de onde moramos, podemos
dizer que só vemos poluição, trânsito congestionado, violência e
injustiça.
Olhar como resposta a um convite divino pode nos dar
perspectivas mais sensíveis e se desdobrar em relações e posturas
diferenciadas. Mesmo quando ao redor há destruição, prova de nosso
descuido, conseqüência de nosso egoísmo, podemos melhor nos
conscientizar sobre as mortes que o pecado gera. Podemos nos voltar a
Deus humildemente, saboreando sua graça, a redenção em Jesus, e nos
inspirar a criar com espontaneidade, com formosura e com a alegria de
quem tudo começou -- o Criador.
Nem sempre separamos tempo para
contemplar a criação, para nos tornar verdadeiros adoradores. E, quando
não adoramos o Criador, acabamos por adorar falsos ídolos.
Eugene
Peterson, em seu livro “A Maldição do Cristo Genérico”, nos alerta:
“Nada nessa criação existe meramente para ser estudado, analisado,
entendido; cada elemento, a ‘obra’ de cada dia, existe, antes de tudo,
para ser recebida como uma ‘nota’ integrante e coerente dos ritmos
totalmente abrangentes do oratório da criação, na qual respiramos o
mesmo ar que Deus soprou sobre o abismo; e, do mais profundo de nossos
pulmões -- nossa vida --, cantamos e dançamos para a glória de Deus”.
Parece
que nos tornamos mais técnicos que celebrantes. Acumulamos informações,
discutimos acadêmica ou teologicamente, mas talvez o comentário de
Jesus para nós não seria diferente daquele dirigido aos samaritanos:
“Vocês adoram o que não conhecem” (Jo 4.22). Em nosso dia-a-dia, vivemos
como seres fragmentados, continuamos a pregar Jesus na cruz (com os
pregos da nossa ignorância), sem desfrutarmos do significado de sua
morte e ressurreição -- uma vida nova, livre e abundante, cuja inteireza
cativa outros. Como diz Franky Schaeffer, em “Viciados em
Mediocridade”: “Na maior parte do tempo os cristãos vivem na tensão
entre suas atividades espirituais e o resto da sua vida. Entretanto, o
cristianismo deveria ser uma experiência libertadora que abre nosso
entendimento para apreciar mais do mundo de Deus. Somos aqueles que
foram libertos para ver o mundo como realmente é, desfrutando e nos
divertindo com a diversidade e a beleza da criação”.
A campanha
do vencedor das eleições americanas, Barack Obama, teve como “slogan”
principal: “Sim, nós podemos”. Será que podemos viver um ano novo no
novo ano? Podemos, efetivamente, fazer diferente? Toda boa mudança, toda
diferença geradora de vida só pode ser realizada a partir de Deus. Ele
nos muda, para que possamos agir de maneira diferente. Tudo vem do Pai
das luzes (Tg 1.17). Nele podemos viver um dia de cada vez, com
reverência à vida.
Se Deus é pessoal até com as estrelas, que ele
chama pelo nome, quanto mais conosco! Saibamos, pois, ouvir sua voz,
que é cheia de majestade, faz dar cria às corças e desnuda os bosques
(Sl 29.4, 9). Que o Espírito de Deus nos ajude a parar, contemplar,
adorar e proclamar as maravilhas do Criador, cuidando da criação,
cultivando espaços de silêncio e reflexão.
• Tais Machado,
paulistana, é psicóloga clínica e professora em seminários teológicos. É
secretária nacional de capacitação da Aliança Bíblica Universitária do
Brasil.
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