Depois de ler um “textão” nas redes sociais, tenho a terrível mania
de dar uma olhada nos comentários. É uma mistura de pesquisa social,
auto-tortura e um lembrete forçado da total deturpação do ser humano.
Esses comentários contêm muito lixo, bestialidade, ódio; mas também, de
forma mais rara, algumas pérolas, bom senso e até voz profética.
Há alguns dias estava lendo um desses textões nonsense, no qual o
autor claramente se achava o messias do mundo, destilando veneno e ódio
para todo os lados. Como sempre, fui me torturar nos comentários.
Percebi que lá encontrava o mesmo que nos meus “textões”: alguns
aplausos, o “muito obrigado por esse texto”, o cara que xinga a mãe, a
menina do “Não jugueis”, o cara que comenta sem nem ter lido e até a
hashtag de algum possível candidato em 2018.
Na hora eu buguei. Travei. Não entendia como um texto tão diferente
dos meus podia gerar comentários tão parecidos. Fui olhar outros textões
na rede… Vi o de um jornalista a favor da Lava Jato e um contra, os de
uns 3 candidatos a presidente em 2018, os de pastores reformados e
pentecostais, o de uma adolescente Youtuber e também da trinca de
filósofos pops do Brasil. Foi quando percebi que todos aqueles
comentários que eu sempre vejo nos meus textos estavam lá também. Não
importava o conteúdo do textão, nem a ética ou a moral deles. Não
importava se havia erros de português ou palavras em latim. Todos têm
seu público garantido com os comentários “padrão” citados acima.
O famoso algoritmo das redes sociais garante a cada textão – escrito
por um gênio ou uma pessoa normal – o público para curtir e comentar.
Cada ego será alimentado nas redes sociais e, assim, se perpetuarão as
plataformas cibernéticas que fizerem esse algoritmo de forma mais
precisa e alienada nos nichos.
Não estou dizendo que temos que sair das redes sociais, que não
devemos ler mais os tais “textões” ou nos transformar em detetives dos
egos. É impossível saber se esse texto que você está lendo agora pode
ser puro fruto do meu ego e, ao mesmo tempo, útil a algum leitor. Meu
alerta é apenas para estarmos atentos à armadilha de só ler os textões
que nos agradam, sempre das mesmas pessoas e fontes. Acredito que tem
muita mensagem útil para ser lida na internet. Que sejamos sagazes o
suficiente para não nos tornarmos apenas fruto de um algoritmo que nos
aliena.. E só “migrarmos” de massa de manobra da TV para as plataformas
digitais.
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