Esta é a época da desconstrução. A imprensa não pode mencionar o
bem-feito de ninguém sem acrescentar uma (em outros tempos) vexaminosa
lista de malfeitos.
O cinismo da imprensa, porém, espalhou feito
praga. Todo mundo tem sua opinião sobre tudo (outra praga) e é sempre
negativa. O casamento não escapou.
Primeiro virou piada. Diziam
que se a cerimônia nupcial tinha de ter testemunhas é porque a briga ia
ser feia. Ou que o casal “contrai” núpcias, como quando alguém “contrai”
uma doença. Um amargurado disse que o casamento era bom, mas não devia
ter vínculo empregatício. Outros lembravam que o casamento começa com um
juiz de paz e acaba com um cabo de guerra. E as gracinhas iam por aí.
Segundo,
indevidamente avacalhado, o casamento passou a receber chumbo grosso.
Pessoal da telinha começou a moda da “produção independente”,
referindo-se ao procedimento de ter filhos planejadamente fora do
casamento.
O direito de uma criança crescer sob os cuidados de pai e
mãe não foi considerado, em favor do assumido direito egoísta de uma
pessoa ter filhos sem se casar. A ênfase no individualismo atropelou a
ideia da sociedade doméstica. A insistência na igualdade entre os sexos
ignora as diferenças mais básicas. Perguntada se representar na tela uma
mãe a fazia desejar a maternidade, Júlia Roberts classificou a pergunta
como sexista, como se um útero fizesse parte também da anatomia
masculina. É verdade que o casamento já foi apenas uma convenção social,
mas nada ajudou reduzi-lo a uma conveniência pessoal. “Que seja eterno
enquanto dure”, propunha Vinícius de Morais, e que dure enquanto um dos
dois quiser, porque a âncora da união passa a ser o instável sentimento
narcisista equivocadamente chamado amor. Não se busca construir uma
sólida relação alicerçada em um compromisso assumido pelo casal, mas
busca cada um sua auto realização.
Então, por que ainda nos
casamos? É notável que o número de divórcios tenha explodido alcançando
cifras nunca imaginadas, mas é gritante o fato de os divorciados
voltarem a se casar. Cresce o número de produções independentes. Aumenta
o número das curiosamente chamadas uniões estáveis, assim classificadas
desde a primeira noite sem se saber se serão mesmo estáveis. Mas os
casamentos continuam. Por quê?
A
resposta não pode ser outra. O casamento é uma instituição divina e,
mesmo desfigurado como um dos efeitos da Queda, continua sem concorrente
à altura. Fustigado pela sociedade desde os tempos do patriarcalismo,
distorcido pelos próprios cristãos quando se curvaram diante das forças
culturais de diferentes épocas e lugares, o casamento é incomparável. Na
união conjugal segundo a Escritura, homem e mulher são iguais em
dignidade e juntos constituem a melhor expressão da imagem de Deus. No
âmbito do lar, homem e mulher exercem diferentes papeis e dons conforme a
dotação original do Criador. Não são duas metades de uma laranja –
muito menos dois abacaxis! –, mas duas pessoas integrais vivendo no
âmbito da aliança instituída por Deus.
Sob a orientação da
Palavra, os cristãos devem glorificar a Deus casando-se no Senhor e
vivendo nessa relação que é emblema da relação de Cristo com a sua
igreja. Não existe projeto que substitua esse.
Casado com Sandra, é jornalista, pastor presbiteriano e editor da Cultura Cristã.
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