![A paz do cético e a tensão do cristão](http://artigos.gospelprime.com.br/files/2014/09/a-paz-do-cetico-292x200.jpg)
Há
uma ironia no modo de vida cristão. Ainda que uma das razões para
alguém aceitar Cristo seja poder dar sentido para ela, preenchendo o
vácuo existencial existente quando não se tem a verdade de Deus, a
conversão não necessariamente torna-a mais bem resolvida.
Enquanto
se é cético e o mundo material é a única preocupação, há, de certa
maneira, uma ausência de tensão. Vive-se a realidade presente com toda
intensidade, sem culpas, sem acusações de consciência. Como não existe a
expectativa de um porvir, a experiência atual se torna o maior valor
que alguém pode ter. Neste caso, não cabe a reflexão sobre a medida das
coisas, restando apenas o uso e gozo do que está à disposição.
Nesse
sentido, pode-se dizer que o cético vive em paz. Não há nele o conflito
entre os valores deste mundo e da vida futura. Como não crê em um
porvir, não há tensão entre o quanto deve ceder aos apelos desta vida e o
quanto deve reservar para uma glória futura.
Quanto
ao cristão, no entanto, sequioso que é pelo Paraíso prometido, certo
que as escolhas desta vida são decisivas para determinar se ele
participará ou não dele, a paz que, talvez, pretendesse adquirir com sua
conversão, se transforma, de fato, em uma constante tensão. A
expectativa paulina da glória, que o fazia ansiar pelo mundo vindouro e
tratar este como mera passagem, se apodera da alma cristã esperançosa,
lançando sobre ela o constante olhar julgador que vigia o quanto anseia o
porvir e o quanto se entrega às delícias presentes.
O
cristão sabe que o afeiçoamento exagerado ao estado presente o torna
insensível quanto ao valor da eternidade. O que está preparado para ele
não é algo disponível aos sentidos, pois “nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano”
essas coisas. Mas também sabe que abandonar tudo em favor do
transcendente o faz perder a noção de suas responsabilidades mais
imediatas, mas que são importantes e decisivas, inclusive, em relação ao
seu destino. Isso é um evidente fator gerador de tensão e até mesmo
Paulo, o apóstolo que ansiava o céu mais que tudo e tinha as glórias
terrenas como estrume, sentiu e expressou tal angústia.
Por
isso, a escolha por Cristo é, ao mesmo tempo, a solução existencial,
pois resolve o problema do destino eterno, e o desencadeador de uma luta
íntima perpétua. Claro que há sempre a opção pela mentira, pelo
auto-engano. Mas ser cristão, afinal, é mais que uma escolha pelo que
faz bem, mas, sim, a busca incessante da verdade. E esta, nesta vida
presente, não significa a ausência de conflitos. A paz que Cristo dá,
como ele mesmo afirmou, “não é deste mundo“. A paz do cristão é a certeza da glória, ainda que havendo de suportar as dores do mundo atual.
Por Fabio Blanco
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