O concurso para novos agentes da Polícia Civil
chega ao Tribunal de Justiça recheado de incoerência e escolhas consideradas, no
mínimo, infelizes. E os principais personagens do banco dos réus estão na banca
examinadora da Academia de Polícia. Dos cinco delegados escolhidos para a
análise dos candidatos, três têm anotação criminal (item capaz de eliminar os
aspirantes ao cargo de detetive), e a diretora responde por improbidade
administrativa. No caminho da ficha suja, o concurso feito em 2013 reservou novo
capítulo para os 42 candidatos reprovados na pesquisa social. Seis foram
reconduzidos ao cargo após conversa com a banca examinadora. Detalhe: quatro
aparecem no sistema da Polícia Civil com apontamento criminal. Dois deles —
Felipe Busch e Vitor Gonçalves — foram presos em flagrante por disparo de arma
de fogo e receptação, mas acabaram absolvidos. Outros dois candidatos continuam
com processo em andamento: Adriano Macedo da Silva recorre do crime de peculato,
e Fabiano Rego foi autuado em flagrante em 2009 por crime de trânsito. Nenhum
deles teve esgotados todos os recursos, mas o edital do concurso prevê que
apenas o antecedente criminal já é eliminatório. A tolerância com os quatro
candidatos não se repetiu na hora de outros julgamentos da banca examinadora. O
rigor da lei serviu para desclassificar candidatos com ações de menor potencial,
como Ana Garcia, ex-policial civil do Rio Grande do Sul. Lutadora de jiu-jitsu e
atleta de pole dance, ela teve o currículo rabiscado com anotações de que a
dança — por usar roupas curtas e exigir alongamentos excessivos — seria
incompatível com a carreira de policial. É verdade que contribuiu a
‘brincadeira’ de Ana Garcia ao escrever no Facebook a popular frase do Capitão
Nascimento no filme ‘Tropa de Elite’: ‘A tarefa de perdoar os traficantes cabe a
Deus. A nós (policiais) cabe apenas promover o encontro entre eles’. A alegação
da ex-policial, que há quatro anos abandonou a carreira no Sul, tem espelho na
própria corporação: “Quantas policiais cariocas são passistas e rainhas de
bateria das escolas de samba? Há várias, e a brincadeira no Face está replicada
na página mantida pela própria Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), a
tropa de elite da Polícia Civil. Não levaram em consideração que nunca respondi
a crime algum”, desabafa.
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