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Versículo do Dia

Versículo do Dia Por Gospel+ - Biblia Online

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O modelo cristão da pós-modernidade

O modelo cristão da pós-modernidade
Filósofos e sociólogos, sobretudo da corrente existencialista, vem ganhando destaque à medida que apresentam que a humanidade está correndo em direção a uma nova era, a pós-modernidade, com uma forma de viver que representa bem o ritmo que tem sido apresentado pelo ambiente e moral secular, marcados pelo consumismo, pela velocidade da informação e pela oscilação e esvaziamento dos valores. E isso tem de tal modo adentrado na contemporaneidade que é possível encontrar sinais disso em todo ambiente onde houver pessoas, quem sabe até mesmo em algumas igrejas.
Quando comparamos a Igreja de hoje com a de vinte anos atrás, obviamente que notamos muita diferença, mas o que quero expor aqui é que essas diferenças correspondem a um conjunto de fatores que revelam o risco que a Igreja vem correndo por estar mudando seu perfil. De antemão antecipo, a verdadeira Igreja, isto é, o Organismo Invisível que tem Cristo como Cabeça, permanece sem mácula, de modo que sempre haverá um remanescente fiel que honra as expressões “nação eleita”, “sacerdócio real” e “povo escolhido para anunciar o Evangelho”.
Para tornar mais didática minha metodologia, vou usar como referência dos dois movimentos que tem ganhado destaque no seio do Cristianismo: o neopentecostalismo e os “sem igreja”. O primeiro é conhecido de todos e sua face preocupante tem a ver com a ênfase na prosperidade material (casamento feliz, emprego garantido, saúde para dar e vender), com a dimensão secundária do ensino doutrinário (afinal, a letra mata, não é?) e com o sensacionalismo dos movimentos (pois os cultos, além de serem dispostos em cardápio: “segunda-feira da vitória”, “terça-feira da remoção de encosto”, “quarta-feira do crescimento financeiro”, “quinta-feira da resolução dos conflitos inimagináveis”, “sexta-feira da busca pelo amor da minha vida”, “sábado da oração pelo emprego”, “domingo do X-Tudo”, também vem dando lugar às inúmeras campanhas).
O segundo movimento (os sem-igreja) é mais recente e parece ser marcado por duas categorias: os que se revoltaram pela popularização da pregação da prosperidade nas igrejas e os que têm dificuldade na arte de seguir instituições e temem estar enriquecendo pastores (sim, meu amigo, só existem essas duas categorias, desculpe o radicalismo). Quero deixar claro que isso não quer dizer que entre os neopentecostais e os sem-igrejas não haja pessoas realmente sinceras, porém o que estou buscando é entender o que motivou a formação desses grupos e ouso dizer que tem a ver com a constante onda de influência da pós-modernidade.
Sim, na pós-modernidade as pessoas são consumistas, querem ouvir que estão conquistando a vitória (isto é, também são triunfalistas), querem saber que já são campões por natureza e querem com a praticidade de uma palavra de incentivo ter aquilo que sonham. Parece ser enfadonho estudar (afinal, qual a proporção de membros de tua igreja que frequentam a EBD? Abaixo direi) e é mais prático e atrativo os grandes movimentos, diante dos palestrantes renomados e cantores amaciadores do ego. Profecias que envolvem participar mais ativamente do processo evangelístico são redarguidas com “#Misericórdia”, já aquelas em que os visionários veem “carros e mais carros na porta da igreja” e jogam as chaves nas mãos dos presentes são respondidas com insaciáveis “glórias” e “venha a nós”.
A informação corre rapidamente. Nem o pão e nem o peixe têm se multiplicado de forma mais veloz do que a informação, por meio da ciência e tecnologia. E com isso, não raro temos nos entretido mais com as redes sociais, que com a atividade do reino de Deus na terra. Tem sido difícil convencer jovens da importância de adentrar no sacerdócio e é triste ver a Igreja perder em interação até mesmo para o WhatsApp. Por outro lado, por mais que estejamos numa fase em que a popularização do conhecimento é possível, a igreja tem reproduzido os vícios do meio secular, de investir pouco ou mal (ou ambos) em educação, sobretudo em grupos como neófitos e crianças (estas últimas, infelizmente, podem sofrer cada vez mais com a aprendizagem destituída de valores que o Estado, a mídia e sociedade estão patrocinando). E nossas EBDs? Tentam, “sufocadamente”, manter sua existência e encontrar um dia na semana para assistir ao remanescente fiel, que correspondem a um décimo da membrazia (sim, da membrazia, porque raramente se vê obreiros nela).
E em se tratando de destituição, oscilação e esvaziamento de valores, o que se tem a dizer? Nada. Só temos a observar. Observar o quão difícil tem sido ver membros que se enraízem em suas denominações, parece comum e banal mudar de uma denominação para outra, parece que as pessoas não têm mais se importando com as coisas deveras simples da fé cristã, parece que não há mais aquele anseio nos grupos de se integrar e conquistar as coisas juntos (consagrar-se juntos, visitar pessoas, pregar de casa em casa, obter juntos os recursos para uma festividade…) e com isso, temos estreitado nossos laços “afetivos” com a mais pura das classes brasileiras, a classe política.
E para tocar no ponto mais perceptível do rumo que vamos tomando a caminho do esvaziamento de valores, cito algo que todo mundo já deve ter notado: Nós não temos mais sido um exemplo de “comunidade”. Durante todo o tempo de crescimento real da Igreja, nosso destaque sempre foi (além de adoradores de Deus) um exemplo de grupo comunitário; não um ajuntamento de pessoas para ouvir juntos uma “palestra”, mas sim um grupo com um objetivo comum: a edificação coletiva através do Espírito Santo a fim de estar preparado para a volta de Jesus Cristo. Mas hoje, após tanto ouvir músicas pseudocristãs nos ensinarem que nosso irmão é nosso inimigo (e que está a fim de nos derrubar para roubar nosso cargo na coordenação) não mais treinamos a empatia, não visitamos os necessitados, não mais fomos perdoadores e metade das vezes em que cumprimentamos alguém com “paz do Senhor” tem sido questionável nossa sinceridade.
Para atender a toda essa demanda viciosa, o modelo neopentecostal tem crescido. As pregações em torno da prosperidade tem se modernizado, as músicas cristãs tem se aperfeiçoado na arte de camuflar o objeto de sua reverência, temos polarizado os dons (dado mais ênfase a uns, que a outros), bem como desequilibrado a relação fruto do Espírito x dons espirituais (dando mais ênfase aos últimos, que ao primeiro). Nossos eventos tem se tornado mais sensacionalistas, a fim de atrair pessoas que já não querem mais ir aos cultos de domingo, aos cultos de doutrina e às escolas bíblicas e progressivamente os cultos darão lugar às campanhas. E ainda me pergunto (preciso me perguntar?): por que os batismos no Espírito Santo e a conversão têm sido cada vez mais difícil? Será que é só porque as pessoas estão cada vez mais duras de coração? E mais do que crescido, o modelo neopentecostal (que até merece ser chamado de Novo neopentecostal) tem sido o modelo mais bem acolhido em denominações que antes tinham aversão a ele (mas, é claro, com novos termos e novas roupagens).
Por outro lado, pessoas tem se revoltado com esse modelo e não conseguem mais acreditar na liderança pastoral; ou então são tão sensíveis que não querem ajudar a mudar e a reformar a Igreja e com isso o movimento “sem igrejas” tem crescido. E tem crescido como uma forma de igreja, pois se reúnem em casas (pois não creem mais em templos), chamam seus pastores de outros títulos (pois não creem mais na nomenclatura pastoral) e investem mais na solidariedade e na proximidade (pois de alguma forma ainda querem preservar o modelo de igreja enquanto uma comunidade). E eu aqui não pretendo me prender a dizer se esse movimento é cristão ou não, ou se é menos não-cristão que o anterior. Só quero dizer que nossa forma de fazer igreja tem deixado a desejar e não tomo como referência esses dois movimentos que tem crescido, antes tomo como exemplo as Escrituras.
Sim, a Bíblia mostra a Igreja como uma comunidade em que cada um atenta para o que é do outro, não por inveja nem por vanglória tendo o sentimento de servo que operou em Jesus, de modo a considerar sempre o querer e o efetuar de Deus, diante de uma geração corrompida (Fp 2.3-16). Sim, a Bíblia mostra que devemos resplandecer como astros no mundo (Mt 5.14; Fp 2.15) e quando ela diz isso não tinha em vista o sentido de “astros e estrelas” que damos hoje. Sim, a Bíblia traz o seguinte texto, que é mais duro do que todas as palavras que já mencionei, até então:
“As vossas palavras foram agressivas para mim, diz o Senhor; mas vós dizeis: Que temos falado contra ti? Vós tendes dito: Inútil é servir a Deus; que nos aproveita termos cuidado em guardar os seus preceitos, e em andar de luto diante do Senhor dos Exércitos? Ora, pois, nós reputamos por bem-aventurados os soberbos; também os que cometem impiedade são edificados; sim, eles tentam a Deus, e escapam. Então aqueles que temeram ao Senhor falaram frequentemente um ao outro; e o Senhor atentou e ouviu; e um memorial foi escrito diante dele, para os que temeram o Senhor, e para os que se lembraram do seu nome. E eles serão meus, diz o Senhor dos Exércitos; naquele dia serão para mim joias; poupá-los-ei, como um homem poupa a seu filho, que o serve. Então voltareis e vereis a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus, e o que não o serve” (Ml 3.13-18).
E sim, Deus ainda não desistiu da Igreja. Deus está nos dando tempo para mudarmos nossas atitudes e atendermos ao que de fato ele espera de nós: “Vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2.9). E Ele é o mesmo Deus que usou Samuel para dizer isto: “Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros” (1 Sm 15.22).
Voltemos então às coisas simples. Que possamos evangelizar sem sensacionalismos neopentecostais (aceitei a Cristo não porque eu queria ganhar um carro, mas porque eu quero ser salvo). Que possamos voltar a visitar pessoas (não apenas aquelas que mais contribuem financeiramente com o templo, mas também aquele neófito, enfermo e enlutado). Que possamos voltar a conquistar juntos os recursos para nossas festas (sabendo que a integração da construção coletiva é mais útil que os patrocínios prontos, que saem mais caros depois). Que possamos voltar a estudar a Palavra sistematicamente e a dar valor aos cultos de doutrina e EBD (porque isso pode edificar mais do que palestras de autorrealização).
E, por fim, que possamos voltar a viver em comunidade, com cada um ajudando o outro a “esquecer as coisas que para trás ficam, seguindo as que estão diante, prosseguindo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3.13-14), atentando bem para o que disse o apóstolo Paulo: Sede também meus imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós, pelos que assim andam; porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas. Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo (Fp 3.17-20). Sim, devemos ser uma comunidade aqui na terra, mas uma comunidade hospedeira, porque nossa casa é no céu, onde está nossa eterna raiz, Jesus Cristo.
E o Espírito e a esposa dizem: Vem! E quem tem sede venha; e quem quiser tome de graça da água da vida” (Apocalipse 22.17).

Por Lucas Kayzan

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