Dois mil e dezessete chegou. Do ano que passou não poderemos mudar nada
já feito e acabado. Podemos sim aprender com os erros, reconsiderar,
reatar, quem sabe até começar de novo. No entanto, não há como
eximir-nos de nossas responsabilidades, nem neutralizar as consequências
de nossas opções. Algumas marcas hão de acompanhar-nos ainda por muito
tempo. Há, sim, como nos abrirmos ao novo.
Mas, antes do novo vem
o óbvio. As previsões e os videntes estão mais em alta do que nunca:
“Em 2017: Um casal famoso vai se separar! Um cantor vai morrer! Um
grande time vai cair pra segunda divisão! Teremos dias difíceis na
economia! Novos escândalos vão sacudir a política nacional e a
República! As intempéries da natureza castigarão regiões no Brasil! O
mundo estará em guerra...” e por aí vai. Tão óbvias são também as
promessas de ano-novo: “Emagrecer, sair do sedentarismo, parar de fumar,
dedicar-se mais às coisas de Deus e da espiritualidade, guardar mais
dinheiro”, enfim obviedades.
Então, o que há de ser novo em 2017?
Não há nada de novo debaixo do sol, diria Salomão no livro de
Eclesiastes. Também “não há sabedoria em dizer que os anos do passado
são melhores que os atuais” (Ec 7.10). Só há novidade numa vida centrada
em Deus e em seu evangelho. Deus nunca envelhece, seus planos nunca
saem de moda. Seu amor não muda com a moda e não se incomoda ou
influencia com o politicamente correto. Contudo, sendo imutável, Deus
permanece tanto um mistério inescrutável quanto uma eterna novidade e
uma notícia alvissareira para o homem. Em Deus tudo é sempre novo. Suas
misericórdias, por exemplo, se renovam a cada manhã (Lamentações 3.22),
Deus tem sempre a proposta de renovação de seus pensamentos de paz e de
salvação a nosso respeito. Não há lugar para o desespero porque suas
misericórdias se levantam sobre nós com a aurora de cada amanhecer.
E
o que dizer do amor de Deus? Este amor nunca morre, jamais se extingue,
é eterno, imutável, generoso, gracioso, e ativo agora mesmo: a chuva e o
sol, dádivas de Deus, são para todos os homens. Todos plantam, todos
colhem, todos são cuidados em amor por este Deus que é amor! Os que
centram a sua vida em Deus vivem com as esperanças renovadas. Uma vida à
parte da vida de Deus e do evangelho tem sim os seus momentos fugazes
de alegria inebriante. Entretanto, como na história das Bodas de Caná no
Evangelho de João capítulo 2, quando a vida corre marginal e
indiferente à presença de Cristo, as primeiras sensações de alegria e
felicidade atingem a vida dos homens; porém, esta alegria não se
sustenta. Não dura muito. Não resiste aos reclamos e as exigências de
novas sensações. Nada e ninguém conseguem o tempo todo satisfazer-nos,
daqui surgem muitas de nossas depressões, frustrações e falta de sentido
existencial.
Todavia, uma vida que tem Cristo como eixo e que
gira em torno de sua presença pode passar e certamente passará por maus
bocados. Entretanto o milagre do vinho melhor, daquele transformado da
água, indica sempre que o melhor de Deus é sempre o porvir. Claro, o
melhor de Deus foi-nos dado em Cristo e em sua obra. Então, o melhor de
Deus surpreende-nos a cada dia, uma bênção sucede uma dádiva que nos
prepara para uma graça e sempre numa crescente alegria. E, passados
esses dias e esta vida, as bênçãos novas e as novas alegrias continuam
na eternidade feliz junto de Deus e com os anjos e santos.
Desejo a você um ano-novo cuja novidade seja uma vida centrada em Deus e na novidade do evangelho da graça.
É ministro da Igreja Presbiteriana Central de Itapira
(SP) e professor de Teologia Pastoral e Bioética no Seminário
Presbiteriano do Sul, de Filosofia na Faculdade Internacional de
Teologia Reformada (FITREF) e de História das Missões no Perspectivas
Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
COMENTÁRIOS