Duas pesquisas feitas há pouco tempo, uma nos Estados Unidos e a outra
no Canadá, mostram que entre 60 a 70% dos jovens que cresceram na igreja
se afastam da fé e da instituição religiosa no início da fase adulta, e
metade deles não reconhecem a tradição religiosa em que foram criados,
considerando-se ateus ou agnósticos. As razões para o abandono da fé e
da igreja são várias e, de certa forma, complexas.
Muitos jovens
entrevistados admitiram que, em algum momento, começam a questionar o
significado da fé e da Igreja. Isso deve nos levar a refletir sobre a
credibilidade da fé cristã. Estudiosos definem a secularização como o
processo por meio do qual as instituições religiosas, bem como o
pensamento religioso perdem sua relevância social. Porém, antes de
perder a relevância social, perde-se a relevância pessoal da fé. A
pergunta que devemos nos fazer é: “Quão pessoal é nossa fé?”. Se os
cristãos conseguirem reconquistar o valor pessoal da fé, decerto
reconquistarão sua credibilidade.
Não basta termos instituições
sofisticadas, dinâmicas e funcionais, precisamos de mais que isso.
Precisamos de uma fé viva, de corações aquecidos pela verdade do
evangelho, da alegria de Cristo que se expressa na serenidade e
segurança de um relacionamento pessoal e profundo com Deus. Precisamos
também da transcendência que nos leva a olhar para além do nosso mundo
reduzido e limitado.
Diante do desafio de transmitir a fé para
novas gerações, precisamos considerar com seriedade três dimensões que
demonstram a natureza pessoal de nossa fé em Cristo. A primeira é a
necessidade de sermos intelectualmente íntegros. Os cristãos têm o
compromisso de argumentar e falar em favor da verdade. Muitos jovens
abandonam a fé porque encontram respostas evasivas aos grandes
questionamentos, o que os leva a uma crise de confiança. O compromisso
com a integridade intelectual exige de nós uma mente cristã e a
disposição de pensar, de forma honesta, com nossos jovens, sobre
qualquer assunto que envolva sua fé em Cristo.
A segunda é a
necessidade de sermos moralmente íntegros. A fé cristã requer de nós uma
coragem moral como expressão do caráter transformado que experimentamos
em Cristo. Os escândalos envolvendo líderes cristãos, o moralismo de
uns e o silêncio de outros nos grandes temas éticos e morais, têm
provocado nas novas gerações um enorme descrédito em relação ao
significado da fé.
A terceira é a necessidade de sermos
espiritualmente íntegros. A fé cristã é um chamado para nos
relacionarmos com a Trindade -- Pai, Filho e Espírito Santo. O convite
de Jesus para segui-lo envolve estar com ele e não somente aprender com
ele. Não podemos viver constantemente agitados e inquietos, uma vez que a
justificação é um presente da graça de Deus a nós. Muitos jovens
abandonam a fé porque se cansam do pragmatismo agitado, que não os
inspira a uma vida de devoção. A prática da oração e da meditação e
expressiva na vida daqueles que amam a Deus de todo o coração e alma.
A
fé no Deus vivo da Bíblia, no Deus de nossos pais, só pode ser abraçada
num relacionamento pessoal e íntegro com ele. A transmissão da fé se dá
de coração para coração. É lamentável que muitos jovens estejam
abandonando a fé por causa da hipocrisia de seus líderes, da
superficialidade consumista de seus pais, do pragmatismo tecnológico de
suas igrejas, da ausência de respostas honestas a seus dilemas e
dúvidas. O sábio diz que “não havendo profecia, o povo se corrompe” (Pv
29.18). Sem uma visão clara de quem somos e para onde desejamos ir, sem a
consciência de que somos um povo peregrino em terra estranha,
caminhando em direção à terra que Deus nos prometeu, seremos facilmente
absorvidos pela cultura que nega seu passado e não tem proposta alguma
para o futuro.
Nota: Texto publicado originalmente na edição 362 da revista Ultimato.
Pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador
do Centro Cristão de Estudos, em Brasília (DF). É autor de A Espiritualidade, o Evangelho e a Igreja, "Janelas para a Vida" e "O Caminho do Coração".
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