Nos dois textos anteriores da nossa
série sobre Gálatas 4.4-5, aprendemos quatro características da resposta
do apóstolo à pergunta: “que criança é essa que nasceu no Natal?”.
Temos focado na criança como o coração da história, em duas
circunstâncias de seu nascimento e no propósito de sua vinda. Nesta
parte final, aprenderemos mais duas características do Natal de acordo
com Paulo.
Então, que criança é essa na
manjedoura? De acordo com Gálatas 4.5, ele é o Filho que nasceu para
nos fazer herdeiros de Deus. Como o apóstolo diz, ele veio “a fim de que
recebêssemos a adoção de filhos”, isto é, como herdeiros com direitos e
privilégios completos (Gálatas 4.5). Nessas palavras, aprendemos o
objetivo final da vinda do Filho.
Precisamos apreciar novamente o
significado do termo usado por Paulo aqui. A adoção era definida pelo
direito romano e amplamente praticada na vida romana. Imperadores
romanos haviam adotado homens não relacionados a eles por laços de
sangue, a fim de lhes darem seu título e autoridade. Em termos mais
gerais, quando um filho era adotado, ele era em todos os aspectos legais
igual aos nascidos em sua nova família. O filho adotivo tinha o mesmo
nome, a mesma herança, a mesma posição e os mesmos direitos que os
filhos natos.
Para apreciar a realidade impressionante
da nossa posição como herdeiros na família de Deus, lembre-se de como
Deus nos via antes da nossa adoção. Sem a graça da adoção, não éramos
“filhos de Deus”, mas “filhos da desobediência” (Efésios 2.2); éramos,
“por natureza”, não “filhos de Deus”, mas “filhos da ira” (Efésios
2.3)! O ponto é que, na adoção, o Pai dá todos os direitos e
privilégios que pertencem ao seu próprio Filho para aqueles que não eram
nem seus filhos nem seus herdeiros por natureza e nascimento.
O Catecismo Maior de Westminster capta
bem o ensinamento de Paulo sobre a adoção na Pergunta 74. Pela adoção,
somos ensinados, todos aqueles justificados pela fé somente são
“recebidos no número dos filhos de Deus, trazem o seu nome, recebem o
Espírito do Filho, estão sob o seu cuidado e dispensações paternais, são
admitidos a todas as liberdades e privilégios dos filhos de Deus,
feitos herdeiros de todas as promessas, e coerdeiros com Cristo na
glória”. Em outras palavras, pela adoção, aqueles de nós que Deus
justificou têm o mesmo nome, a mesma herança, a mesma posição e os
mesmos direitos que aquele que é o Filho de Deus.
Que criança é essa na manjedoura, então?
Ele é o Filho de Deus que se tornou um servo de Deus para que nós, que
éramos servos do pecado, pudéssemos nos tornar filhos e filhas de Deus.
Ele é a criança que nasceu para nos fazer herdeiros de seu Pai.
Finalmente, na reflexão sobre a primeira
vinda de Cristo em Gálatas 4.4-5, o apóstolo nos fornece ainda mais uma
visão sobre a questão: que criança é essa? A criança, diz ele, é o
Filho enviado pelo Pai. Essas palavras simples nos levam para o pano de
fundo da a vinda do Filho: elas nos apontam para a sua pré-existência.
Ele existia antes de ter sido enviado, existia como uma pessoa, e como
uma pessoa distinta do Pai. O Filho, que seria chamado Jesus e exaltado
como Senhor, era (e continua sendo) o unigênito do Pai. Ele foi (e é)
de uma substância com o Pai e igual a ele (e ao Espírito). Embora sua
pré-existência seja a única afirmação possível de deduzir a partir do
texto de Paulo, essa afirmação é consistente com o que o resto da
Escritura torna explícito: a criança na manjedoura era o Filho
preexistente do Pai, milagrosamente gerado quanto à sua natureza humana
pelo Espírito Santo e milagrosamente preservado da corrupção do ventre
de Maria. Uma pessoa com duas naturezas.
Perceba-se também que, de acordo com
Paulo, o Pai enviou seu Filho. O Filho que veio foi comissionado por seu
Pai. Falamos da Grande Comissão, mas aqui Paulo fala da maior comissão
de todas, a base da Grande Comissão. As palavras do apóstolo refletem a
harmonia entre o Pai e o Filho. Em se tratando de sua vinda, o Pai
concordou em enviar seu Filho, e o Filho concordou em ser enviado pelo
Pai. O que Paulo diz aqui aponta para o que ele em outro lugar chama de o
eterno propósito de Deus em Cristo (Efésios 3.11), a dispensação da
plenitude dos tempos (Efésios 1.9-10), de acordo com a qual o Filho,
ungido pelo Espírito Santo, deveria obedecer à vontade de seu Pai e,
assim, tornar-se o Herdeiro de todas as coisas, incluindo uma
descendência incontável que se tornaria coerdeira com ele.
De acordo com Paulo, então, o bebê na
manjedoura é Deus com Deus, o Filho com o Pai, que tomou permanentemente
para si a natureza e carne humanas. Ele não foi sempre homem, mas
sempre foi Deus. Jesus Cristo não foi primeiro um homem sobre quem a
divindade desceu. Ele era primeiramente Deus, que tomou sobre si a
humanidade. Depois da Encarnação, ele agora é e sempre será uma pessoa
com duas naturezas, humana e divina.
Que criança é essa na manjedoura, então?
Ele é a criança que é o Filho enviado pelo Pai, o Filho que agora é e
de agora em diante sempre será Deus e homem.
Ao longo desta série de três partes,
refletimos nas respostas do apóstolo Paulo à pergunta educada, mas
persistentemente colocada para nós na canção de Natal de William C. Dix,
What Child is this? [“Que criança é essa?”]. Para todo o
mérito das respostas encontradas na canção, precisamos ter certeza de
que cremos que as Escrituras ensinam sobre o bebê na manjedoura. De
acordo com o apóstolo, ele é o filho pelo qual todo o tempo havia
esperado. Ele é o Filho nascido de mulher e nascido sob a lei.
Verdadeiramente, esta criança não era apenas um bebê de festas e
feriados: ele era e continua a ser o Filho Eterno enviado pelo Pai para
nascer como aquela criança santa que cumpriria a maior comissão de
todas, a de nos redimir dos nossos pecados e nos fazer herdeiros de Deus
com ele.
Por: R. Fowler White. © 2016 Ligonier. Original: Christmas According to the Apostle Paul – Gal 4:4-5 (Part 3 of 3)
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