Não sei se você já teve esta sensação: diante de alguém que fala mal de
algo que você ama você fica sem reação porque, no fundo do seu coração,
você sabe que a pessoa está certa e, por mais que te machuque, você não
pode fazer nada, pois concordar com os fatos é mais forte do que sua
própria vontade.
Tive esta sensação ao ler Salvos da Perfeição,
de Elienai Cabral Júnior. Ele, filho de pastores, cresceu “na fé” e
conhece a igreja por dentro. Porém, não fala de bastidores sujos, mas de
uma realidade ainda pior: a igreja falhou.
A igreja falhou em sua missão de alimentar os famintos, curar os enfermos, dar liberdade aos cativos.
Mas
por que ela errou? Por nossa causa. Nós, que não fomos atentos à
palavra de Deus e à força da sua vontade. Não entendemos o que ele nos
dizia e criamos uma imagem de Deus diferente do que ele é de verdade. E o
autor deste livro entende que fizemos isso.
Sua crítica é
concisa e objetiva. Cáustica por vezes, contudo sempre sólida e
consistente, o que faz com que seja ainda mais dolorida. O livro é
contemporâneo, falando de como os nossos problemas pessoais influem em
nossa visão de Deus e em nossa interação com a instituição igreja.
Elienai nos mostra o quanto falhamos conosco mesmos enquanto não
entendemos que não somos perfeitos, e sim humanos cheios de falhas, e
que, exatamente por isso, Deus nos ama mais que tudo.
Jesus, para
o autor, não é apenas um interventor de Deus no meio da humanidade. Ele
é a própria humanidade de um Deus perfeito, que se faz imperfeito para
se assemelhar a nós e nos levar de volta até ele.
Não é leitura
fácil. Elienai desconstrói a igreja, Deus, Jesus e, por fim, nós, que
pensamos na perfeição como sendo a nossa meta. Desconstrução é um
processo longo, árduo e apenas permitido aos que têm a capacidade de
olhar a vida por diferentes ângulos, sem preconceitos e abertos a novos
paradigmas e pontos de vista.
Para mim, a leitura foi um parto.
Um parto de uma nova visão de igreja, mais próxima do que Deus definiu
que ela seria. Mais próxima de cumprir seu papel de diminuir o
sofrimento na terra. Mais próxima da felicidade.
• João Thiago da Cunha Netto, casado com Fernanda, é jornalista e escreve no blog www.webbencao.blogspot.com e no site www.jornallivrearbitrio.com. Escreveu o blog-livro www.larinterior.blogspot.com. Atua como evangelista na Igreja Apostólica Batista Projeto Céu, em Santos, SP.
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