No final do século XIX,
Spurgeon vislumbrou essa tendência de se trazer diversão para dentro da
igreja. Na medida em que se alastrava a Controvérsia do Declínio, em
1889, a saúde de Spurgeon se tornava precária, e, por isso, ele deixou
de pregar em vários domingos. Mas, em uma quinta-feira à noite, no mês
de abril, Spurgeon pregou no Tabernáculo uma mensagem na qual ele
afirmou:
"Creio não estar
procurando erros onde o erro não existe; mas não consigo abrir os olhos
sem ver coisas sendo feitas em nossas igrejas que, há trinta anos, não
eram nem sonhadas. Em termos de diversão, os professos têm avançado no
caminho do relaxamento. O que é pior, as igrejas agora pensam que sua
responsabilidade é entreter as pessoas. Discordantes que costumavam
protestar contra a ida a um teatro, agora fazem com que o teatro venha a
eles. Muitos [templos de igrejas] não deveriam receber licença para
exibir peças teatrais? Se alguém fosse sério em exigir obediência às
leis, não teriam de obter uma licença para que suas igrejas funcionassem
como teatros?
Tampouco ouso falar a
respeito do que tem sido feito nos bazares, jantares beneficentes, etc.
Se estes fossem organizados por pessoas mundanas decentes, não poderiam
alcançar melhores resultados? Que extravagância ainda não foi
experimentada? Que absurdo tem sido grande demais para a consciência
daqueles que professam ser filhos de Deus e que não são deste mundo, mas
chamados a andar com Deus em uma vida de separação?
O mundo considera as
altas pretensões de tais pessoas como hipocrisia; e, de fato, não
conheço outro termo melhor para classificá-las. Imaginem aqueles que
gostam da comunhão com Deus brincando de tolos, com roupas teatrais!
Falam acerca do lutar com Deus na oração em secreto, mas fazem
malabarismo com o mundo em uma jogatina irreconciliável. Será que isto
está correto? O certo e o errado trocaram de lugar? Sem dúvida, existe
uma sobriedade de comportamento que é coerente com a obra da graça no
coração, e existe uma leviandade que indica que o espírito maligno está
em supremacia.
Ah! senhores, pode ter
havido uma época em que os cristãos eram por demais precisos, mas não é
assim em meus dias. Pode ter existido uma coisa espantosa chamada
rigidez Puritana, mas eu nunca a vi. Agora estamos bem livres desse mal,
se é que ele existiu. Já passamos da liberdade para a libertinagem.
Ultrapassamos o dúbio e caímos no perigoso, e ninguém pode profetizar
onde haveremos de parar. Onde está a santidade da igreja de Deus
hoje?... Ela não passa de algo turvo, tal qual um pavio que fumega; é
mais um objeto de ridicularização do que de reverência.
Será que o grau de
influência de uma igreja não pode ser medido por sua santidade? Se
grandes hostes daqueles que professam ser cristãos fossem, quer em sua
vida familiar, quer em seus negócios, santificados pelo Espírito, a
igreja se tornaria uma grande potência no mundo. Os santos de Deus
poderão lamentar juntamente com Jerusalém, ao perceberem que sua
espiritualidade e santidade estão em níveis baixíssimos! Outros podem
considerar isto como algo que não trará qualquer consequência; porém,
nós o vemos como o irromper de uma lepra."
Eis o desafio para a
igreja de Cristo: "Purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como
do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus" (2 Co
7.1). Não é a engenhosidade de nossos métodos, nem as técnicas de nosso
ministério, nem a perspicácia de nossos sermões que trazem poder ao
nosso testemunho. É a obediência a um Deus santo e a fidelidade ao seu
justo padrão em nosso viver diário.
Precisamos acordar. O
declínio é um lugar perigoso para ficarmos. Não podemos ser
indiferentes. Não podemos continuar em nossa busca insensata por prazer e
auto-satisfação. Somos chamados a lutar uma batalha espiritual e não
poderemos ganhá-la apaziguando o inimigo. Uma igreja fraca precisa se
tornar forte, e um mundo necessitado precisa ser confrontado com a
mensagem de salvação; e talvez haja pouco tempo para isso. Como Paulo
escreveu à igreja em Roma: "Já é hora de vos despertardes do sono;
porque a nossa salvação está agora mais perto do que quando no princípio
cremos. Vai alta a noite, e vem chegando o dia. Deixemos, pois, as
obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz" (Rm 13.11,12).
por Charles Haddon Spurgeon
por Charles Haddon Spurgeon
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