O problema óbvio que se perpetua e corrompe
Os
danos causados pela crise vivida no estado do Espírito Santo vão exigir
investimento, muito trabalho, cooperação, amor e graça, e levará algum
tempo. Há muitos danos e efeitos colaterais. Um deles tem atingido os
próprios policiais, identificados como o pivô de toda a crise1.
Avaliações um pouco mais profundas acabam por revelar que, em que pese a
responsabilidade que tiveram nos acontecimentos, não são os únicos
responsáveis. Há uma conjuntura que envolve políticas públicas mal
orientadas. Dizer isso é labutar no óbvio. Porém é o óbvio que costuma
não ser visto! É o problema óbvio que se perpetua e corrompe. Ser óbvio
não atenua a causa de qualquer problema, na verdade agrava-a.
Atualmente
temos um grande contingente de policiais internados vítimas de
esgotamento emocional. O Hospital da Policia Militar (HPM) da capital
capixaba está pedindo socorro, para que profissionais da saúde,
especialmente psiquiatras, possam voluntariar-se para atender os
policiais. Há informações vindas de outros policiais que alguns de seus
colegas estão nas ruas, mas longe das condições necessárias e do
equilíbrio emocional mínimo para a tarefa de patrulhar e realizar
abordagens. Isso potencializa o risco, tanto para o policial quanto para
a população.
A fé faz alguma diferença nessa situação?
As
igrejas batistas estão buscando, entre seus membros, profissionais que
possam voluntariar-se para o atendimento e apoio aos policiais em
atendimento no HPM e também a outros que não estão lá, mas necessitam de
apoio. Em momentos assim, pode-se perceber a grande diferença que a fé
produz na vida. Em conversa com um policial cristão, ele me narrou os
dias de angústia que viveu no período em que foi impedido de sair do
quartel. Em alguns momentos ele apenas ficava em silêncio e dizia que eu
não poderia entender o que havia acontecido. Contou-me que ficou à
beira do desespero, quando então buscou um lugar solitário e entregou-se
a Deus, como jamais havia feito antes. E então sentiu-se consolado e
fortalecido.
Embora seja um policial técnico – não treinado para
atividades externas – neste momento é o que tem feito, participando do
patrulhamento das ruas. Sente-se fortalecido por Deus e, em sua alma,
sente-se chamado para contribuir e, se é preciso estar nas ruas, então
ele está disposto a isso. “Percebo que são os policiais que creem, que
confiam em algo maior que eles mesmos, que melhor estão reagindo neste
momento de tanta pressão e insegurança!”, disse o militar.
Confidenciou-me que há ameaças sendo feitas e que tem dependido do apoio
da família, amigos e das orações de muitos irmãos.
Ore pelo
estado do Espírito Santo. Ore pelos militares e pelo governo. Há pessoas
que perderam o trabalho de uma vida inteira e não têm ideia como
reerguer-se. Há muito luto. O número de mortos é bem maior do que os
indicados nas notícias2. E a crise ainda não acabou. A
normalidade precisa ser retomada e a Grande Vitória vai procurando
reagir com quase tudo funcionando. No final do dia 13, algumas notícias
tristes: pelo menos três ônibus foram incendiados e um assalto ao
Convento da Penha, local turístico e símbolo religioso, chamou muita
atenção. Neste episódio, o frei Pedro Engel, de 80 anos, foi amarrado e
sofreu diversas escoriações pelo corpo. O dinheiro das ofertas das
missas foi levado. Que, pela misericórdia de Deus, o restante da semana
seja de notícias melhores!
Notas:1. Foram
abertos Inquéritos Policiais Militares (IPMs) e processos
administrativos que podem terminar na demissão de 155 militares. Fonte:
G1.
2. Governo do ES divulga pela 1ª vez número de mortos na crise: 143. Fonte: G1.
• Usiel Carneiro de Souza
é pastor da Igreja Batista da Praia do Canto, em Vila Velha, ES. É
mestre em teologia e também graduado em Administração pela Universidade
Federal do Espírito Santo.
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