Em 1988 o pastor unitarista norte-americano, Robert Fulghum, ficou
famoso com a publicação de sua obra “All I Really Needed to Know I
Learned in Kindergarden”, lançado em português em 2004 sob o título
“Tudo o que eu devia saber eu aprendi no jardim da infância” (Ed. Best
Seller). O livro permaneceu na lista de best-sellers em Nova York por
quase dois anos. Dentre as coisas que ele relaciona estão ideias muito
simples de conduta e convivência social como, por exemplo: “não pegue as
coisas dos outros”, “arrume a sua bagunça”, “peça desculpas quando
machucar alguém”, “respeite o limite dos outros”, dentre outras.
A
ideia é muito sugestiva e provocadora. Mostra muito bem que o que somos
e como resolvemos nossos problemas, hoje, depende muito de valores e
princípios que desenvolvemos desde a infância. A ideia não é nova.
Provérbios nos diz: “Ensine seus filhos no caminho certo, e, mesmo
quando envelhecerem, não se desviarão dele” (Pv 22.6, NVT). Também temos
em nossa cultura uma expressão que reflete essa ideia, “isso vem de
berço” ou “isso se aprende no berço” – explicando que certas condutas
revelam a formação que a pessoa teve na infância.
Algo semelhante
pode ser dito sobre a nossa caminhada com Deus. Os anos iniciais de
nossa fé são determinantes para nossa caminhada subsequente com Deus.
Quando comecei a ler a Bíblia de forma mais intencional e pessoal, na
adolescência, comecei pelos Evangelhos. Alguns ensinamentos e parábolas
de Jesus foram marcantes para mim naquela época, e, à medida que o tempo
passa, descubro que influenciam até hoje meu modo de pensar e agir. Não
é exagero dizer que “tudo o que realmente devia saber na vida eu
aprendi com Jesus, na leitura dos Evangelhos”.
Por isso, nesse
início de ano, quero recordar alguns desses ensinamentos elementares que
fazem toda a diferença na maneira como vivemos com Deus e com as
pessoas. São alguns ensinamentos tão elementares, porém, também tão
ignorados por nós. Parafraseio alguns desses ensinamentos preciosos.
Não fiquem preocupados com as coisas da vida, o que comer ou beber... (Mt 6.25)
Tão
simples, mas tão difícil de praticar. No mundo em que ter e fazer se
tornam mais importante do que ser e conviver, vivemos constantemente
ansiosos e inquietos com as “coisas” e menos com as pessoas. É preciso
um exercício de contemplação e reconhecimento do cuidado de Deus para
nos desvencilhar da tirania da ansiedade pelas coisas da vida.
Busque
em primeiro lugar o reino de Jesus e a sua justiça, e você vai ver como
serão supridas todas as suas necessidades (Mt 6.33)
Buscar
o reino e a justiça parece algo tão abstrato em comparação com as
necessidades da vida. Por outro lado, ter tudo que se deseja não
satisfaz as pessoas. É justamente os valores do reino e da justiça que
dão sustentabilidade à existência e satisfação humanas.
Por que você fica incomodado com os erros dos outros e não enxerga os seus próprios defeitos? (Mt 7.3)
Os
pequenos erros dos outros sempre são imensamente maiores do que nossos
mais graves defeitos. Se pudéssemos ser mais condescendentes e pacientes
com os erros do cônjuge, dos filhos, dos parentes, dos irmãos da
igreja, do pastor e etc., poderíamos viver mais solidariamente.
Precisamos ser mais perdoadores, compassivos, compreensivos e
longânimes.
Quando ajudar os outros, não fique esnobando. Nem sua mão esquerda precisa saber o que a mão direita fez (Mt 6.3)
Esse
ensino parece que nunca foi tão necessário quanto nos dias de hoje, em
que os meios de comunicação em massa e as redes sociais são usados
constantemente para exibir os gestos solidários e bondosos de tantos
indivíduos. Se dependesse do “bem” que vemos as pessoas fazendo nas
redes sociais, esse mundo seria uma maravilha.
Vocês
aprenderam que era para amar o seu próximo e odiar o inimigo, mas eu
digo o seguinte, amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês
(Mt 5.43)
Não precisa muito para considerarmos
alguém um “inimigo” ou “adversário”. O individualismo e narcisismo
modernos levam as pessoas a considerarem até seu cônjuge como um
inimigo, e, muitas vezes, por pouca coisa. Mesmo que os seja, Jesus
ensina a amar, não odiar.
Se alguém quer salvar a sua vida, se
dará mal; mas quem perder por minha causa, terá uma grande alegria e
surpresa de encontrar uma vida incomparável (Mt 16.24-25)
A vida não
se define por alcançar os “meus” sonhos e objetivos, ser o que sempre
quis ser, viver a minha vida. A alegria e satisfação são alcançadas
quando nos doamos, principalmente, quando nos doamos a Cristo para que
ele seja o centro de nossa vida.
Não são as coisas que comemos que nos contaminam, mas as coisas que saem de nossa mente e coração (Mt 15.11)
É
muito mais fácil nos preocuparmos com a forma, o ritual, a lei da
igreja ou a religião e não perceber que, no fim, essas coisas não
transformam fundamentalmente a maldade, inveja, egoísmo, intolerância e
amargura interior das pessoas.
Esses são alguns de tantos ensinamentos singelos e genuínos de Jesus que precisamos cultivar constantemente em nossa vida.
Pastor presbiteriano, doutor em Antigo Testamento e
diretor acadêmico da Faculdade Teológica Sul-Americana, em Londrina
(PR).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
COMENTÁRIOS