Uma das características marcantes da Reforma – mas pouco explorada – é a
precocidade dos reformadores. Lutero tinha trinta e quatro anos quando
afixou as 95 teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. Calvino
tinha apenas vinte e sete quando chegou à Genebra e publicou a primeira
edição da obra “Institutas da Religião Cristã”. Tyndale tinha trinta e
cinco quando completou a tradução do Novo Testamento, em inglês. Cremos
que esse lembrete vale uma reflexão bíblica muito útil para nossos dias.
As
Escrituras elogiam aspectos da juventude, como a força, a energia, o
entusiasmo. A mocidade é idade adequada para carregar pesos, realizar
tarefas pesadas: “É bom que o homem suporte o jugo enquanto é jovem”
(Lamentações 3.27). Juventude é tempo de empolgação, efervescência de
ideias, sonhos de um mundo melhor. Contudo, a Bíblia alerta para os
riscos próprios desse período, como excesso de confiança, ignorância,
arrogância. Por isso, é necessário que os jovens sejam convertidos a
Deus e obedientes à sua Palavra. “Como pode o jovem manter pura a sua
conduta? Vivendo de acordo com a tua palavra” (Salmo 119.9).
Outro
ponto de equilíbrio é a postura humilde perante os mais velhos, como o
apóstolo Pedro alertou: “Da mesma forma, jovens, sujeitem-se aos mais
velhos. Sejam todos humildes uns para com os outros, porque ‘Deus se
opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes’” (1 Pedro 5.5). Se
por um lado “a beleza dos jovens está na sua força; a glória dos idosos,
nos seus cabelos brancos” (Provérbios 20.29). Esses cabelos brancos, na
linguagem bíblica, não surgem de uma hora para outra: “o cabelo
grisalho é uma coroa de esplendor, e se obtém mediante uma vida justa”
(Provérbios 16.31).
Assim, a Bíblia mostra a importância da
coexistência entre as gerações. Os mais velhos não têm força, mas têm
experiência; os mais jovens não têm experiência, mas têm força.
“Lembre-se do seu Criador nos dias da sua juventude, antes que venham os
dias difíceis” (Eclesiastes 12.1) recomenda o velho pregador. A
humildade, esperança e amor intergeracionais são marcas de igrejas
genuinamente bíblicas. O fruto do Espírito é paz, amor, domínio próprio
também entre as diferentes gerações: uma completa a outra, em amor, com
respeito e lucidez.
Nesta época de mídias digitais, vemos jovens
que se sentem autorizados a opinar, criticar, ironizar, palpitar acerca
de assuntos nos quais não têm autoridade, nem competência. Paulo afirma
expressamente que neófitos não podem liderar a igreja do Senhor: “Não se
pode ser recém-convertido, para que não se ensoberbeça e caia na mesma
condenação em que o caiu o Diabo” (1Timóteo 3.6). Por outro lado, há
gente velha na igreja extremamente problemática, sem esperança, insegura
em todos os sentidos concebíveis, que age como a serpente rastejando
sobre o próprio ventre, oprimindo a próxima geração. Apenas o fato de
ser “velho na fé” não é credencial, nem autorização alguma, para ações
pecaminosas como a resistência às vozes jovens.
A igreja
institucional na época da Reforma estava carregada de tradições humanas,
de legalismos. Os pastores haviam se tornado impostores, feiticeiros
ávidos em controlar as vidas das pessoas, suas possibilidades, seus
recursos.
Neste aniversário de 500 anos da Reforma, lembremo-nos
também da importância dos jovens na narrativa bíblica, na história da
igreja, nas nossas comunidades locais. Como afirmou o pastor Rick
Warren, “há crentes que envelhecem mas não amadurecem”. É necessário ter
um testemunho cristão verdadeiro. Servos-líderes não podem ser
neófitos, mas podem ser jovens, desde que maduros na fé: “Ninguém o
despreze pelo fato de você ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis
na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza” (1Timóteo
4.12).
Oramos por um Brasil mais justo, por mais amor nas
famílias, por corações de filhos convertidos aos corações dos pais e
corações dos pais convertidos aos corações dos filhos. Oramos por filhos
próximos de suas mães, mães próximas de seus filhos. “Quando Jesus viu
sua mãe ali, e, perto dela, o discípulo a quem ele amava, disse à sua
mãe: ‘Aí está o seu filho’, e ao discípulo: ‘Aí está a sua mãe’. Daquela
hora em diante, o discípulo a recebeu em sua família” (João 19.26-27).
Aos pés da cruz as gerações estarão unidas, as famílias serão saradas.
Todos nós, velhos e novos, adultos e crianças, precisamos crer Nele!
Afinal, “até os jovens se cansam e ficam exaustos, e os moços tropeçam e
caem; mas aqueles que esperam no SENHOR renovam as suas forças. Voam
alto como águias; correm e não ficam exaustos, andam e não se cansam”
(Isaías 40.30-31). É tempo de trazer à memória aquilo que traz
esperança. Nossos dias são breves como o sono, são como a relva que
brota e logo murcha e seca. Mas Deus é nosso castelo forte, nosso
"refúgio, sempre, de geração em geração" (Salmo 90.1).
• Davi Lago, pastor batista, mestre em Filosofia do Direito (PUC/MG).
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