
Diferentemente da poesia que na infância eu entrevia em tais imagens, senti-me revoltado quando a suntuosidade majestosa dos palácios de São Petersburgo foi mostrada outro dia num documentário da tevê, em estarrecedor contraste com a narrativa de como, no início do século 18, a opulenta ex-capital da Rússia Imperial foi plantada nos baixios de um terreno pantanoso, a custo do sacrifício de milhares de vidas. Foi como se uma nuvem espessa me impedisse de apreciar a beleza artística da arquitetura que desfilava diante de meus olhos.
Entre os povos da antiguidade não foi diferente: jardins suspensos e esfinges e pirâmides... Nos nossos dias megatorres opulentas vão sendo plantadas, onde quer que jorre petróleo e onde quer que o palácio do consumismo impulsione o capitalismo egoísta e desordenado, qual na “feira da vaidade” da alegoria de Bunyan em “O Peregrino”. Diante dessa “feira”, sinto-me como Paulo na capital da Grécia, “indignado de ver a que ponto esta cidade está cheia de ídolos” (At 17.16, versão ecumênica da S. B. Canadense).
Fico triste ao contemplar a visão materialista do mundo, que supervaloriza e até incentiva o supérfluo, que gasta fortunas astronômicas na ostentação do poder, enquanto povos inteiros passam fome e não têm onde morar, enquanto missionários que se sacrificam para pregar o evangelho de Jesus dependem, o mais das vezes, de um sustento incerto que não lhes permite viver condignamente.
Não é bom que isso aconteça. Não é bom que deixemos a mentalidade do mundo invadir a mente e os hábitos do povo de Deus. Não podemos gastar sequer cinquenta reais com o que não é essencial enquanto esse valor, pequenino para nós, representa tanto para os que deixaram tudo e foram viver entre pessoas carentes de Deus e dos recursos mínimos necessários para a sobrevivência. Seria uma contradição do evangelho que pregamos.
• Antonio Carlos Wagner C. de Azeredo, 73, é secretário do Conselho Evangelístico de Missões da Igreja Presbiteriana Nacional, em Brasília, DF.
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