Sim, o Brasil vive uma crise financeira
terrível. Há tempos não atravessávamos algo tão complexo, em um cenário
de Caos Político e de muita instabilidade no mercado de trabalho. O
desemprego vem atingindo os maiores índices dos últimos tempos. E tudo
indica que a situação não vai melhorar tão rapidamente quanto a urgência
requer.
Como Contador e Consultor Tributário,
profissão que exerço há alguns anos, vejo de perto os efeitos da crise:
endividamento, alta dos juros, pessoas sofrendo para quitar dívidas
adquiridas a longo prazo. Com certa frequência sou consultado para
realização de planejamentos financeiros causados pela falta de recurso e
controle de gastos.
Como Pastor, me deparo com muitos
cristãos que colocam sua fé em questão no momento de atravessar a crise
financeira. Tragicamente muitos não confiam em Deus o tanto que pensam
que confiam quando a cobrança chega e não há recurso suficiente para
pagar a mesma.
Diante destes dois contextos, acredito
que posso propor orientações que colaborem para que os mesmos, Crise e
Fé, possam ser solucionados de forma madura e coerente com a realidade. A
Bíblia, de fato, nos oferece excelente subsídios para que possamos
enfrentar essas crises com discernimento necessário para que possamos
viver com dignidade na sociedade, mas principalmente diante de Deus.
Origem dos Recursos: A origem de
tudo o que temos é e sempre será o Senhor. Você pode e deve fazer a sua
parte humana, que é ir levantar cedo, ir estudar e se preparar
academicamente, mas se Deus não te sustentar, nenhum esforço humano
seria suficiente. Isso requer de nós reflexões e percepções honestas no
que diz respeito a fé. Lemos em Filipenses 4:19
“O meu Deus, segundo as suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus”.
Nossas necessidades serão supridas. Porém, muitos entendem que estas necessidades são os CAPRICHOS
desnecessários que podemos viver sem. Necessidade para o cristão é ter
o que comer. O próprio Senhor Jesus disse que o Filho do Homem (Ele
mesmo) não tinha onde reclinar a cabeça (Mateus 8:20), então diante
disso, não consigo ver coerência e maturidade em quem disse que vai
perder a fé porque “terá que cortar a internet de 50 megas de velocidade
e meu filho vai ter dificuldades para jogos online”. (Acreditem, já
escutei isso em um aconselhamento).
Se reconhecemos o Senhor como a origem
de todo o sustento de nossas vidas, devemos crer, que nossas
necessidades serão supridas. E, OBVIAMENTE, isso não
tem a ver em nada com a maldita da Teologia da Prosperidade, a qual
repudio publicamente, e que ensina que Deus nos tornará ricos e
milionários. Considere isto:
“Fui jovem e já estou velho, e nunca vi um justo abandonado nem seus descendentes mendigando o pão. ” (Salmo 37:25)
Gaste Menos Do Que Você Ganha: É o
conselho mais óbvio que eu poderia oferecer, porém, é o conselho que
mais repeti em toda a minha vida, no que diz respeito a organização
financeira. Incrível o número de pessoas que vivem um padrão de vida que
não condiz com seus ganhos pessoais. A preocupação com o “status” e com
a vida de aparência (literalmente, mostrar para os outros que está bem
financeiramente) faz com que muitos acumulem dívidas no cartão de
crédito, usem reservas financeiras que estavam destinadas a outros
objetivos, contratem empréstimos com taxas altíssimas para manter uma
aparência. Isso é trágico, em todos os sentidos da palavra.
Gosto muito da definição de Richard
Swenson acerca do conceito de “Margem”, que ele aborda como “o espaço
entre o nosso fardo e nossos limites”. E aqui cabem algumas perguntas
que devem ser respondidas com honestidade:
Você sabe qual a real margem financeira
que você tem? Quanto você tem de despesas fundamentais e quanto essas
despesas comprometem sua renda? Quais os valores PESSOAISnorteiam sua definição de despesas fundamentais?
Despesas fundamentais são aquelas que
você tem que ter para sobreviver e trabalhar. Ou seja, é perfeitamente
possível viver com um carro mais simples. Seu filho não precisa de um
celular de R$ 2.500,00 para ser feliz. Você não precisa comprar aquela
camisa de R$ 800,00 para ser feliz; estes são apenas exemplos de uma
dura realidade de quem vive em função de ter as coisas. Lembre-se de
onde deve estar o seu coração. (Mateus 6:21)
Com base nestas observações, defina suas “margens”. Coloque no “papel” ou em uma planilha o que é, DE FATO, essencial para o seu cotidiano. Acredite, você irá se surpreender com o que pode ser economizado.
Não É Pecado Se Preparar Para O Futuro:
Muitos demonizam o fato de fazer reservas financeiras ou até mesmo
algum tipo de previdência privada com base no texto de Mateus 6:34 onde
Jesus fala sobre as preocupações do amanhã. Porém, o que está claro no
texto é que Jesus diz para que não nos entreguemos à ansiedade, que é
antecipar as coisas com sofrimento e de forma precipitada. Esse texto
não é uma proibição para que façamos alguma previdência ou reserva
financeira para ter uma aposentadoria mais tranquila.
Na verdade, devemos viver o hoje com as
preocupações do hoje, mas sim, podemos, de forma honesta e equilibrada,
organizar o nosso dia a dia para que no amanhã não sejamos apanhados
desprevenidos.
Economize Com Objetivos: Uma
forma de economia que coloco em prática e sugiro sempre, é a de
economizar 20% dos ganhos e destinar por objetivos. Por exemplo, se o
salário recebido é de R$ 1.000,00, coloque duzentos reais na poupança.
Parece que é muito e sacrificial, mas eu já ganhei este valor de salário
e consegui, com muita disciplina, adquirir esse hábito. Com o tempo e o
aumento salarial, elevei este percentual a 25%, destinando os outros 5%
para uma reserva de férias. Ou seja, quando vou desfrutar de férias já
tenho uma reserva, seja para pagar a viagem ou para consumir nas férias.
Atualmente já consegui elevar essa reserva tendo em vista passos
maiores. Conheço pessoas que tomaram medidas drásticas na economia e
elevaram suas reservas em 60% de economia. Ou seja, é possível fazer
este esforço.
Não Abandone a Liberalidade: O
risco que se corre pensando em estruturar a nossa vida financeira é
justamente de olhar demais para nós e esquecer os outros. Erro que
muitos de nós cometemos. Porém, devemos entender que é uma dádiva poder
ajudar os irmãos que estão desfavorecidos.
Cabe ressaltar que não estou aqui
apoiando o mero assistencialismo, que seria sustentar ou ajudar quem
está acomodado. Eu incentivo a ajuda direcionada, ou de forma mais
popular possível “não dê o peixe, ensine a pescar. ” Em um primeiro
momento, pode ser que você tenha que socorrer alguém emergencialmente,
ou seja, “comprar o peixe”. Porém, se você quer ajudar alguém para o
longo da caminhada, “compre o peixe” inicialmente, mas compre uma “vara
de pescar”, ou seja, ajude. Essa ajuda pode ser traduzida: indicando
para emprego, oferecendo uma oportunidade (caso seja empresário e tenha
condições de fazer isso), ajudando a preparar um bom currículo,
ensinando, direcionando, incentivando, orando, principalmente nos
momentos de crise.
Trabalhe, trabalhe, trabalhe e quando se cansar, trabalhe um pouco mais: Não sou Workaholic
(viciado em trabalho), mas já passei fases na vida em que trabalhei 16
horas no dia. Foram períodos intensos, picos de demandas profissionais,
reuniões desgastantes e dias que pareciam que não tinham fim. Confesso
que aprendi muito, principalmente, no que diz respeito ao VALOR do trabalho.
Aprendi que o custo do meu salário era
maior do que meramente dinheiro. Era o meu tempo que estava em questão.
Por conta disso, aprendi que deveria ser mais responsável com o uso dos
meus recursos, pois era difícil conquistá-los. No trabalho conheci
características boas e ruins do meu caráter. As boas procuro
melhorá-las, e as ruins, luto para abandoná-las. Como cristão, não
espero do meu trabalho apenas o recurso financeiro/material, mas
aproveito a oportunidade para que meus VALORES sejam colocados à prova e
aperfeiçoados. Valores que sempre coloquei em prática, mesmo quando
trabalhei em lugares em que não fui valorizado ou que não tive boas
oportunidades, e que sem dúvida, me conduzem até hoje a ser um cristão
mais consciente sobre todo esse contexto.
Espero que estas propostas lhe sejam
úteis e que lhe ajudem a caminhar de forma cristã em meio à crise,
construindo algo sólido para nós, mas sem abandonar a caridade cristã
para aqueles que precisam, conforme a nossa possibilidade e com a
consciência de que não podemos viver uma vida de egoísmo.
A minha oração é para que o Senhor lhe
dê sabedoria para administrar sua vida, discernimento para viver com
menos do que ganha, e disposição em servir, mesmo em meio à crise.
Que o Senhor os abençoe!
Em Cristo,
Marco Cicco
Nenhum comentário:
Postar um comentário
COMENTÁRIOS