Temos visto, graças a Deus, um crescente número de pessoas
interessadas pela fé reformada e um severo combate ao pentecostalismo
nos dias atuais. Vejo isso com bons olhos na maior parte do tempo, mas
algumas vezes esse movimento me traz um pouco de medo. Primeiro porque
muita gente ainda não compreendeu exatamente o que é a fé reformada e o
que significa abraça-la; segundo porque vejo que alguns tratam com muita
irreverência algo que é muito sério e falham na forma como lidam com os
irmãos “mais fracos”.
“Ora, nós que somos fortes devemos suportar as debilidades dos fracos e não agradar-nos a nós mesmos.” (Rm 15:1)
O número de páginas cristãs nas redes sociais, vídeos, memes e etc.
fazendo piada com o pentecostalismo ou o marxismo ou o feminismo me
assusta de alguma forma. Não estou dizendo que algumas vezes essas
postagens não me arranquem riso, mas me preocupa pensar que estamos
tratando de forma leviana aquilo que na verdade é muito sério. Se
pensarmos na seriedade com a qual a Bíblia tratava as heresias,
perceberemos que Deus não acha a menor graça daquilo que muitas vezes
nos faz rolar de rir.
“Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim
também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão,
dissimuladamente, heresias destruidoras (…) para eles o juízo lavrado há
tempo não tarda, e a sua destruição não dorme.” (2 Pe 2:1-3)
Fazemos piada de coisas pelas quais Deus tem enviado pessoas para o
inferno. Não, não tem graça alguma ver a verdade de Deus ser pervertida e
vendida por preço tão barato. Custou caro ao nosso Salvador trazer a
verdade à tona, e deveríamos derramar lágrimas ao ver a Igreja
Brasileira moderna, não risos. Parece que as pessoas que creem nessas
coisas são necessariamente descrentes, ou alvos em potencial. Acho que
nós jovens, principalmente, precisamos de um freio; em nosso ímpeto para
ganhar discursos, muitas vezes estamos perdendo as almas.
Lembro-me de uma aula do Pr. Breno em nossa igreja para a mocidade na
qual ele nos munia de ferramentas para destruir alguns desses discursos
comuns em nossos dias. Mas não me esqueço ao final ele dizer: “o
objetivo não é ganhar o debate; se você no fim das contas não mostrar o
evangelho para a pessoa, de nada valeu”. Ver a forma como alguns jovens
têm lidado com os debates realmente me entristece. Não estamos mostrando
o evangelho em ponto algum do nosso discurso, queremos tão somente
humilhar o oponente e ver que vencemos pelo nosso grande poder de
retórica. Quão tolos somos ao fazer isso.
Vejo que alguns “jovens reformados” têm falhado principalmente em
dois aspectos: primeiro não levam as coisas tão a sério quanto deveriam,
segundo perdem as pessoas pelo bem dos debates.
Não quero dizer que não devemos combater as heresias, jamais! Dizer
isso é ir contra tudo o que a bíblia nos ensina. Estou dizendo que
muitas vezes nos falta sabedoria para fazermos isso. Nos falta algumas
vezes perceber quem realmente acredita nessas mentiras por “ignorância” e
quem deseja através delas perverter as verdades do evangelho (Gl
2:3-6). Em diversas porções das Escrituras encontraremos a advertência
em relação aos falsos mestres, devemos tirá-los do nosso meio, eles são
lobos vorazes que buscam destruir a Igreja do Senhor e precisamos ser
firmes e resistir-lhes. Mas até isso devemos fazer por amor à verdade e
não para a nossa própria glória.
“Tal testemunho é exato. Portanto, repreende-os severamente, para
que sejam sadios na fé e não se ocupem com fábulas judaicas, nem com
mandamentos de homens desviados da verdade.” (Tt 1:13-14)
Acho que algumas vezes nós definimos as pessoas por aquilo que elas
pensam e não procuramos descobrir a razão pela qual ela tem aquele
pensamento, para assim tentarmos ajuda-la. Se olharmos atentamente para
as Escrituras, Cristo era sempre severo com aqueles que pervertiam a
verdade de Deus para cumprir seus próprios desígnios, mas era sempre
misericordioso com aqueles que eram ignorantes à verdade.
“Ai de vós escribas e fariseus, hipócritas, porque sois
semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora, se mostram belos, mas
interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia.” (Mt 23:27)
“Nisto, veio uma mulher samaritana tirar água. Disse-lhe Jesus:
Dá-me de beber. Pois seus discípulos tinham ido à cidade para comprar
alimentos. Então, lhe disse a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu,
pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana (porque os judeus não se
davam com os samaritanos)? Replicou-lhe Jesus: Se conheceras o dom de
Deus e quem é o que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te
daria a água viva.” (Jo 4:7-10)
Acredito que em nossos dias nós temos tido a atitude dura e severa
com todos, sem nem passar pela nossa mente a obrigação que temos de
revelar a graça, misericórdia e justiça de Cristo em nossas palavras. A
nossa mensagem será dura, pois ela vai revelar ao homem que ele pecou
contra Deus e por isso Deus o aborrece. Nosso discurso será difícil,
pois prova que o Senhor deseja que pensemos de determinada forma e que
aquilo que é contrário a essa forma de pensar é algo odiado pelo Senhor.
Contudo, não podemos perder de vista que nosso objetivo nisso tudo é
ganhar almas para o Senhor.
Muitas vezes destruímos as pessoas quando na verdade deveríamos
combater as heresias e demonstrar misericórdia por aquelas que tão
cegamente creem nisso. A igreja não é um local de pessoas perfeitas e
todas maduras com a mesma compreensão das coisas. Não foi assim que Deus
planejou. Ele salvou pessoas imperfeitas e utiliza o convívio que
existe no seio da Igreja para que todos possam aprender e se edificar
mutuamente. Quando não temos paciência com um irmão que é mais fraco e
obrigamos que ele engula a seco as nossas vontades, não estamos agindo
como crentes maduros e sim como crianças mimadas.
Paulo adverte aos Coríntios que não abusem da liberdade que eles têm,
mas que demonstrem misericórdia com o irmão mais fraco (I Co 8:8-9). É
nossa obrigação cuidarmos do próximo, nossos irmãos que estão se
achegando agora ao evangelho não devem ser recebidos com chacota, não é
nosso direito rir daquilo que os enganou por tanto tempo. Devemos tratar
com seriedade.
O movimento pentecostal coloca em cheque coisas inegociáveis, e as
igrejas acabaram aceitando em seu meio heresias e toda sorte de
loucuras; nós precisamos nos colocar contra isso. Não podemos apoiar a
mentira, aceitar que Cristo seja usado como um gênio da lâmpada,
permitir que a Palavra de Deus seja moeda de troca, que os púlpitos
sejam picadeiros, que os gêneros sejam confusos, que a forma de ver o
mundo não seja a bíblica. Não! Precisamos combater cada uma dessas
coisas, pois elas “matam” a Igreja, elas destroem aquilo de mais
precioso para Deus, o resultado da obra de Cristo.
Apesar disso, não é nosso direito tratá-los como ímpios. A graça de
Deus é capaz de alcançar qualquer pecador (afinal de contas ela nos
alcançou). Podemos avaliá-los pelos seus frutos, instruí-los, exortá-los
e mostrar-lhes onde estão errando, mas, fazer piada e excluí-los como
se nós fossemos os únicos a ocupar o céu definitivamente não é algo que
encontramos na Bíblia como recomendação aos irmãos mais fracos.
Não podemos quebrar a unidade da Igreja por conta disso, precisamos
demonstrar maturidade ensinando nossos irmãos em amor, tendo paciência
de mostrar para eles ao longo dessa caminhada como devemos agir e
pensar. Devemos dar bom exemplo, demonstrar graça e misericórdia e
mostrar para essas pessoas a verdadeira Igreja de Cristo, que acolhe
aqueles que nessas coisas acreditam, não para que eles continuem em suas
crenças equivocadas, mas para que eles aprendam a verdade e saibam que
têm em nós auxilio e alívio nessa mudança de vida e caminhada Cristã.
“Porque assim como num só corpo temos muitos membros, mas nem
todos os membros têm a mesma função, assim também nós, conquanto muitos,
somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros” (Rm 12:4-5)
Fonte: Inconformados
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