“Por isso, te digo: perdoados lhe são os seus muitos pecados…” (Lucas 7.47)
Recentemente, senti necessidade de ler um dos meus livros favoritos de Francine Rivers, “Atonement Child” [A Criança da Reparação]. É
uma obra de ficção que conta a dramática história de uma jovem mulher
cristã que descobre que está grávida depois de ter sido horrivelmente
estuprada. Conta sobre sua luta com a pressão para interromper sua
gravidez. No desenrolar da história, revela-se que tanto sua mãe quanto
sua avó, por razões muito diferentes, fizeram abortos. O que nós temos
são três mulheres através de gerações lidando com a questão do aborto e
os efeitos trágicos em suas vidas e fé cristã. Eu li esse livro várias
vezes porque me lembra da minha vida antes de Cristo e da sua
maravilhosa misericórdia.
Uma coisa que realmente me impressiona é
a forma como Rivers se concentra no trauma que essas mulheres sofrem.
Elas foram devastadas pela escolha que fizeram. Ela pinta um quadro que
me é muito familiar de mulheres que foram traumatizadas pela vida e
atormentadas pelo remorso por suas escolhas. Infelizmente, há mulheres
em nossas congregações que fizeram abortos e que podem estar
aterrorizadas para falar a respeito por causa da vergonha, culpa e medo
da recriminação. Nós podemos descobrir muitos fatos a respeito do número
de mulheres fazendo abortos no Reino Unido e nos Estados Unidos, mas
isso não é verdade quando se trata das mulheres em nossas igrejas. Eu
suspeito que o número seja maior do que imaginamos ou que queremos
admitir.
Nós sabemos que a Escócia tem a segunda maior porcentagem de abortos na adolescência do mundo (Cuba tendo a mais alta). As estatísticas estão começando a mostrar uma tendência perturbadora para o aborto no schemes.
Um estudo em 2012 mostrou que na Escócia a taxa de abortos está,
claramente, vinculada a altos níveis de pobreza, onde, de fato, a taxa
pode ser o dobro de outras áreas. Mais uma vez, tragicamente, quase um
terço das mulheres que fazem um aborto na Escócia afirma ter feito outro
anteriormente.
Para as mulheres que querem trabalhar no schemes
escocês, esta é uma questão muito delicada e difícil. Muitas mulheres
com as quais estamos trabalhando fizeram ou estão considerando fazer um
aborto. Eu acredito, absolutamente, que a partir do momento da
concepção, o bebê é uma criança, tem vida, tem sido entrelaçado no
ventre da sua mãe pelo Senhor – eu sou firmemente pró-vida. No entanto,
mesmo quando não concordamos com a escolha delas, essas mulheres
precisam de cuidado e graça para serem capazes de lidar com o trauma, a
culpa, o medo e a dor com que muitas se deparam.
A mentira do mundo é que o aborto é a
interrupção indolor de tecido. No entanto, não há nada indolor sobre
esse procedimento, nem de longe. De fato, há muitas evidências que
sugerem que existe uma clara correlação entre abortos e os efeitos
negativos na saúde mental das mulheres. Não há facilidade alguma
relacionada a tirar uma vida. Para muitas, isso corrói as suas próprias
almas. Como podemos ajudar tais mulheres que vivem e adoram entre nós,
como povo de Deus?
Onde começamos com aquelas que fizeram ou estão considerando um aborto?
Para as mulheres que não são salvas, eu
acredito que precisamos falar, com compaixão e sem medo, a verdade
bíblica e a esperança do evangelho de Jesus para as suas vidas. Há
muitas razões que fazem uma mulher considerar o aborto como a única
opção: medo, abuso, dinheiro e até mesmo como contracepção. Ela pode
esperar que nós a condenemos instantaneamente, chamando- a de assassina e
batendo com alguns versículos bíblicos bem escolhidos. Na verdade, pode
haver um ponto onde ela sinta o peso da palavra de Deus. Mas a verdade
bíblica falada com sabedoria e gentileza irá, espera-se, garantir que
tenhamos mais do que uma discussão de 20 segundos. Nós devemos estar
constantemente procurando trazer o evangelho para o centro do nosso
aconselhamento quando lidamos com um assunto tão doloroso.
Eu muito raramente falo sobre esse
assunto por muitas razões. Principalmente, por ter sido uma dessas
mulheres que tem vivido com medo, aterrorizada que as pessoas (os
cristãos) descobrirão a verdade. Infelizmente, houve observações
maldosas, comentários cruéis e absurdos inúteis e anti-bíblicos
despejados sobre mim. Mesmo agora, quando eu compartilho o meu
testemunho eu encontro maneiras de contá-lo sem realmente dizer as
palavras. No entanto, apesar da seriedade do meu pecado, eu compreendi a
imensa misericórdia e amor de Cristo e sou tão grata por Romanos 8.1: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.”
Como podemos ajudar os cristãos na dor, como igreja?
1. Precisamos reconhecer que esse pode
ser um problema para algumas das nossas mulheres. Há muitas mulheres que
não estão vivendo na graça libertadora que nos foi dada e estão ouvindo
a mentira de que seus pecados não foram apagados ou nunca poderão ser
perdoados. Devemos ajudar a entender as boas novas de que há perdão
vindo de Deus, mesmo para esse pecado.
2. Uma boa prestação de contas vai, com o
tempo, proporcionar-lhes uma pessoa segura, alguém em que elas
realmente confiem para dar o salto e dizer a verdade. Quando esse
momento acontecer, por favor, lembre-se de aconselhar gentilmente com
compaixão e graça. Contudo, fale a verdade bíblica claramente.
Provérbios 27.6: “Leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos de quem odeia são enganosos”.
3. Lembre as mulheres sobre o evangelho e
a graça maravilhosa que lhes foi dada, a liberdade que há em Cristo.
Nós todos carecemos da glória de Deus e felizmente, através de Cristo,
podemos ser restaurados. Lembre-as que isso é um processo que levará
tempo. Não há respostas fáceis ou atalhos. Duras verdades terão de ser
enfrentadas, mas crescimento e libertação pode e irá acontecer em Jesus.
4. Nós precisamos ajudar as mulheres a
chorar por seus filhos (eu sei que isso pode soar estranho, porque elas
fizeram uma escolha ativa, mas acredite em mim, há muitas mulheres em
luto por esses bebês secretos em terrível silêncio). Isso faz parte do
processo de cura.
Eu não estou dizendo que nós devemos
deixar de lado, em qualquer momento, nossas convicções pró-vida, tolerar
o pecado ou abafar a verdade bíblica. Porém, estou sugerindo que
deveríamos considerar todas as vidas que o aborto pode afetar. Eu
reconheço que isso tudo foi a respeito das mulheres (eu tenho uma leve
inclinação a isto). No entanto, para todos os milhares de mulheres que
lidam com a questão do aborto, há também milhares de homens. Eu ouço o
tempo todo que é “direito das mulheres escolher”, mas e o pai?
Ele pode nem saber até que tenha sido feito. Não há escolha para ele.
Como ele lamenta? Como ele pode perdoar e lidar com sua dor? Será que
ele se importa? É uma questão tão complicada. Por isso que essa não é a
palavra final, mas só o começo da caminhada com as nossas ovelhas
feridas.
É por isso que a única esperança é, finalmente, a esperança do evangelho.
“… o Senhor ungiu-me para levar boas
notícias… Enviou-me para cuidar dos que estão com o coração quebrantado
anunciar liberdade aos cativos e libertação das trevas aos prisioneiros
para proclamar o ano da bondade do Senhor e o dia da vingança do nosso
Deus; para consolar todos os que andam tristes…” (Isaías 61.1-2).
Que o Senhor nos ajude a ajudar o seu povo, especialmente, nessa questão.
Por: Sharon Dickens. © 2015 20Schemes. Original: How Should Our Churches Deal With The After Effects Of Abortion?
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